Qual a atitude adequada a um bom gestor? Ou qual a atitude mental necessária para uma carreira profissional com sucesso? A literatura académica e popular sobre o assunto é vasta. No Google Books conseguem-se mais de cinco milhões de hits para attitude, e no Scholar mais de três milhões. E se nesta vasta mole textual se incluem ensinamentos importantes, para os encontrar é necessário peneirar muito material inerte.

Mas de entre todas as páginas sobre o tema há uma que incorpora tudo o que de útil está nas outras. É uma passagem de um escrito rabínico do século dezoito, onde se atribui ao maggid Dov Baer ben Avraham de Mezeritch (circa 1710—1772) o seguinte conselho dado ao rabi Meshulam Zusya de Annopol (1718—1800):

“Os dez princípios do serviço sincero não podem ser ensinados. Mas podem-se aprender observando com cuidado o comportamento de uma pequena criança e vendo atentamente a atuação de um ladrão competente.

De uma criança pequena podem-se aprender três atitudes:

  1. Está sempre feliz sem qualquer razão especial;
  2. Nunca está ociosa nem por um momento;
  3. Quando necessita de algo pede-o vigorosamente.

De um ladrão competente devem-se imitar sete posturas:

  1. O que faz, fá-lo discretamente;
  2. É rápido no atuar;
  3. Está disposto a correr riscos para atingir o seu objetivo;
  4. Dá atenção a todos os detalhes, seja em grandes ou em pequenos empreendimentos;
  5. Está inteiramente focado no que faz;
  6. Só trabalha com colaboradores em quem pode confiar;
  7. Quando falha volta a tentar.”

Este ensinamento do maggid Dov Baer foi dado num contexto religioso de serviço a HaShem. No entanto é fácil reparar que nele se encontram enumeradas de uma forma gráfica e memorável quase todas as atitudes necessárias, não só para o sucesso profissional e empresarial, mas também para algo que ainda é mais importante: ser feliz nesta vida.

O que falta de essencial? Apenas um pormenor: a atitude ética. O não querer de modo algum faltar à justiça ou causar qualquer dano a terceiros. Note-se que a atitude ética era tão fundamental para o maggid, como o ar que respirava. Não lhe passava pela cabeça ser necessário referir algo tão óbvio, e teria chamado a atenção que não existe ser humano com sensibilidade ética mais apurada que uma criança de dois anos. Mas para gerações mais broncas, como a nossa, é preciso explicitar tudo, mesmo o básico, mesmo o óbvio. Não será por isso que os “mission statements” das empresas e as “plataformas” e “programas partidários” incluem sempre uma referência (esfumada) à ética?

Professor de Finanças, AESE Business School

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