De hoje não passa. Chegou o dia da tomada de posse do novo Governo, rigorosamente dois meses após as eleições legislativas. Desfrutem desta ocasião, que desconfio será a única nos próximos quatro anos em que o executivo de António Costa estará metido em alguma coisa que envolva rigor. Com excepção, claro, de todas aquelas ocasiões em que perante mais um fracasso grotesco das políticas socialistas o Primeiro-Ministro vier assegurar não ter culpa rigorosamente nenhuma do sucedido.

Outra coincidência muito gira – por “gira” entenda-se “deprimente”, e por “muito” entenda-se “muito” – é o facto de o novo Governo tomar posse uma semana depois de o Eurostat ter publicado um ranking em que Portugal foi desta vez ultrapassado pela Polónia e Hungria no PIB (para ser mais preciso, no PIB per capita em paridades de poder de compra, que, ainda por cima, diz que é das estirpes de PIB mais prestigiadas). Ou seja, em termos de calendarização, nada mais apropriado do que o Governo tomar posse no exacto momento em que constatamos ter cada vez menos posses. Porque se não tivéssemos a posse do Governo teríamos ainda maior míngua de posses.

Actualizando o placar classificativo dos 27 estados-membros da União Europeia ao nível deste PIB com tuning acima referido, Portugal ocupa a 21ª posição. Pelo menos no momento em que escrevo. É provável que quando o leitor tomar contacto com esta croniqueta já tenhamos sido ultrapassados também pela Roménia. E pela Letónia. E talvez pela própria Croácia. Enfim, da Eslováquia ainda estamos a uma distância segura. Acho eu. Mas para já estamos num honroso 21º lugar. Eu disse “honroso”? Raisparta o corrector automático. Era “vergonhoso” que queria dizer, peço desculpa.

Sendo que o grosso desta vergonha se concentra no percurso que fizemos nos últimos seis anos, com uma sólida queda de três posições no ranking. Digamos que há um concentrado de vergonha neste período. É uma espécie de Guloso, só que em vez de ser concentrado de tomate é concentrado de vergonha. É um Vergonhoso, portanto. É uma saca industrial de 20kg de Vergonhoso, é o que é. Tanto que uma pessoa dá por ela a pensar. Mas porquê isto nos últimos seis anos? O que terá acontecido em Portugal entre 2015 e 2021 para provocar tamanha hecatombe classificativa? Que cataclismo terá assolado o nosso país? Assim de repente não me ocorre nada.

Bom, mas uma coisa é garantida. Este voo picado, em jeito kamikaze, rumo ao fundo da tabela do PIB não culminará, ainda assim, com Portugal na última posição. “Como é possível garantir tal?”, perguntará aquele leitor mais participativo, que se senta sempre na primeira fila, acrescentando:Está porventura prevista para breve a entrada do Burundi na UE?” Claramente a trabalhar para ser o querido do cronista, este leitor, pois trata-se de soberba questão. Não, não se prevê que o Burundi adira à UE, caro leitor. Até porque os burundianos ficariam muito constrangidos em estar atrás de Portugal neste ranking. Ainda que fosse apenas por ano e meio, dois anos, no máximo.

Não, há outro motivo pelo qual Portugal nunca será o – como se diz na gíria ciclística – carro-vassoura deste ranking dos países da UE por PIB per capita. Ao preço a que está o gasóleo temos lá posses para meter combustível no carro-vassoura. Alguma vez? Nem pensar. Nunca seremos, nem o carro-vassoura, nem o lanterna vermelha. A pagarmos da electricidade mais cara da Europa como é que mantínhamos a lanterna acesa? Isso é que era bom. “Mas repare, caro Tiago, por norma uma lanterna é um aparelho portátil que funciona com pilhas descartáveis. E não com recurso a pilhas recarregáveis, ou electricidade.” Hum… Eu sabia que não devia ter dado confiança ao querido do cronista.

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