“O exagero é a mentira da gente honesta”
(Joseph De Maistre)

“Pedro e o Lobo” é um clássico que todos conhecemos. A fábula, atribuída a Esopo, como qualquer fábula, tem um fim pedagógico, ensinando tanto a crianças como a adultos uma importante lição: Pedro, um pequeno pastor, tanto brinca com mentiras que já ninguém o leva a sério e acaba por sofrer as consequências.

Era uma vez um menino chamado Pedro. Pastor, tomava conta do seu rebanho de ovelhas, o que por vezes, sem ninguém com quem brincar ou falar, se tornava aborrecido. Então um dia experimentou uma brincadeira, desatando a gritar: socorro, vem lobo! vem lobo! Ouvindo os gritos, os aldeões correrem para o ajudar. No entanto, não havia lobo nenhum, apenas as risadas de Pedro enquanto os aldeões se iam embora chateados. Uns dias mais tarde, o episódio repete-se e os aldeões voltam a cair na partida. Mas, mais uma vez mas não havia lobo nenhum e os aldeões ficaram ainda mais chateados, indo embora a barafustar.

Será possível que nas altas instâncias internacionais ninguém conheça esta história? Quando António Guterres, em 2018, advertiu que o mundo só tinha dois anos para agir contra as mudanças climáticas, não pensou nos riscos que a brincadeira de Pedro acarretava? Pois, provavelmente não, já que continua a insistir na estratégia: É agora ou nunca voltou a dizer ainda esta semana. E lá para as pastagens das Nações Unidas há muitos Pedros: este ano, a propósito do Dia Mundial da Saúde, o tema escolhido foi… A crise climática, “a maior ameaça à saúde que a humanidade enfrenta” diz a Organização Mundial de Saúde (OMS), agora que o palco lhes foge dos pés com o desinteresse face à Covid. O tal planeta inabitável que Guterres prognosticava há uns dias? Bom, outro dos seus pares, no caso a Organização Meteorológica Mundial (OMM) disse no mais abrangente relatório sobre o tema: “A mortalidade associada a desastres naturais (que, note-se, nem todos se devem às Alterações Climáticas) é quase três vezes inferior em 2019 face a 1970”. E uma simples pesquisa no site Our World in Data mostra destacadamente Doenças Cardiovasculares, seguidas de Cancro, com ambas a responderem por metade das mortes mundiais.

Qual era então a consequência de gritar que o lobo vinha?

Eis que certo dia se ouviram de novo os gritos. Não obstante, desta vez os aldeões olharam uns para os outros e encolheram os ombros. Não queriam ser enganados mais uma vez e ignoraram Pedro. Acontece que desta vez era mesmo um lobo. E Pedro regressa à aldeia a chorar por ter ficado sem as ovelhas. Perante a tristeza, os aldeões deram-lhe uma lição e explicaram que não ajudaram porque pensaram que se tratava de mais uma brincadeira.

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As alterações climáticas não são nenhuma brincadeira. A brincadeira é o catastrofismo que alguns protagonistas lhe incutem com o objetivo de mobilizar a sociedade para o seu combate. Não o fazem por mal, mas porque estão assustados, preocupados e bem intencionados desejam ação. Todavia, as limitações e riscos desta estratégia são evidentes, sobretudo quando percebemos que não faltam preocupações a reclamar a nossa atenção, como a Covid ou agora a Guerra na Ucrânia, tragédia que nem assim coibiu Guterres de fazer uso do alarmismo climático. É preciso ser muito crédulo para julgar que Putin (sendo que a Rússia até esfrega as mãos de contente com os efeitos expectáveis das alterações Climáticas: calor num país gelado é bem vindo, os solos serão mais produtivos para a agricultura, o mar da Sibéria tornar-se-á navegável…) abandonaria o conflito para não ficar com CO2 na consciência.

A Alemanha não quer energia fóssil russa. Mas tem consciência que está dependente dela – não está disposta a deixar morrer alemães ao frio ou a parar a produção industrial do país, para avançar num boicote cego como os Estados Unidos reclamam (e reclamam porque não estão dependentes. E já agora porque não é no seu território que há riscos nucleares, não é no seu território que se refugiam milhões de pessoas, etc.). De igual modo, a energia fóssil a nível global ameaça desestabilizar o já de si instável clima terrestre, mas continuamos dependentes dela em cerca de 80%. E não estamos dispostos a abdicar do tanto bem que ela nos tem feito – a todos os níveis, saúde ou ambiente incluídos.

Pedro teria formas de proteger o seu rebanho de ataques de lobos? O combate às alterações climáticas carece de enquadramento económico, social e ambiental, de participação e envolvimento público, tudo coisas dispensáveis face à urgência de haver, querem-nos convencer, um lobo atrás dos arbustos. Pedro, eventualmente poderia cercar o pasto, ou ter um cão. Mas isso não seria tão divertido – que seria do protagonismo de Greta, DiCaprio, e tantos outros? Ai, mas assim as ovelhas morrem, quando as Nações Unidas (e seguidores, caso da União Europeia) até tinham uma solução para evitar ataques de lobos: sacrificar as ovelhas para os lobos as comerem sem ataques! É mais ou menos o que nos têm pedido: sofram já para não sofrerem no futuro. Aprendam com Pedro e tenham juízo!