Sou só eu, ou por estes dias dá ideia de não se conseguir arranjar ninguém para gerir um banco, que não seja, na melhor das hipóteses, suspeito de práticas que convidam a manter a carteira a uma distância segura? É uma circunstância que me faz lembrar uma cena d’ “O Sexo e a Cidade” em que a personagem Samantha – sim, a com a moral sexual um bocadinho mais lassa – mete conversa com um indivíduo, só se recordando mais tarde que já se tinha envolvido com ele no passado. Questiona-se Samantha, então, se já terá ido para a cama com toda a gente em Manhattan, não havendo mais ninguém “novo” disponível. Ocorreu-me este episódio a propósito da hipotética nomeação de Vítor Fernandes para liderar o futuro Banco de Fomento. Vítor Fernandes que, quando alguém decidiu recordar o seu currículo, parece que andou metido em moscambilhas no Novo Banco. Já não haverá mesmo mais nenhum incorrupto para ocupar cargos de gestão importantes em Portugal?

Querendo quebrar-se este ciclo, que ao clássico vicioso acumula o ruinoso, talvez fosse o momento ideal para – como a dada altura se pensou fazer no futebol português com os árbitros – trazer gestores estrangeiros para administrar os bancos portugueses. Enfim, não quer dizer que resolvesse o problema, mas é bem provável que as coisas melhorassem. Imaginem se, em tempo útil, o governo tem contratado o Bernie Madoff para gerir, por hipótese, a Caixa Geral de Depósitos. Estou certo que teria havido uma, ou outra, trafulhicezeca com o Joe Berardo, era inevitável, que isto são o tipo de indivíduos incapazes de dizer “não” a uma boa trafulhicezeca, mas não teria sido nada comparável com o escândalo que estamos a presenciar.

Assim sendo, ainda está em aberto a possibilidade de vermos à frente do Banco de Fomento um indivíduo que, alegadamente, terá fomentado negociatas entre o Novo Banco, Luís Filipe Vieira e José António dos Santos. A propósito deste último, mais conhecido como “Rei dos Frangos”, e não querendo fomentar suspeitas, não deixa de ser algo surpreendente a descoberta de 1.130.000€, em notas, nas instalações de uma das suas empresas, a Avibom. Atenção, sendo surpreendente, pode haver uma explicação perfeitamente plausível para isto. Afinal, o “Rei dos Frangos” anda há décadas a, lá está, virar frangos. Calhando, um dia o homem estava a virar os frangos e reparou: “Espera. Isto não é um frango. É uma galinha. E o que é aquilo a brilhar na cloaca desta bichana? Alto. Não acredito. É um ovo de ouro!” Ah, pois é. Quem sabe se, no meio de tanto frango, não estava, por engano, a galinha dos ovos de ouro. Pode perfeitamente ter sucedido.

De acordo com os jornais, desses 1.130.000€, 200.000€ estavam num saco do Pingo Doce. Pelo menos, acho que foi o que li nas notícias. Mas confesso que fiquei com uma dúvida: havia 200.000€ num saco do Pingo Doce, ou havia 200.000€ em sacos do Pingo Doce? É que neste último caso, não seria assim tão estranho. Reparem. Os sacos isotérmicos do Pingo Doce, por exemplo, estão a 1,99€ a unidade. Portanto, 200.000€ compram apenas 100.502 sacos destes. Ora, sabendo que o Pingo Doce foi fundado há 41 anos, e assumindo que o senhor José António dos Santos faz compras nessa cadeia de supermercados, desde a sua inauguração, à razão de três visitas por semana, significa que, em cada ida às compras adquiriu 15 sacos do Pingo Doce. O que não é assim tanto, para mais se o senhor tiver uma família grande. Ou seja, se o que a polícia descobriu foi 200.000€ em sacos do Pingo Doce, não é nada de extraordinário. Sim, é verdade que adquirindo 100.502 sacos a 1,99€ cada terá sobejado 1,02€. Eh pá, mas as autoridades que investiguem para onde é que foi esse dinheiro. Se foi para alguma offshore, ou assim.

Bom, constato agora que já ultrapassei os 3.500 caracteres quando, também eu, preconizo jornadas de trabalho mais curtas. Sim, sim. Estou com Rui Tavares, o fundador do LIVRE, e com tantos outros, na luta pela semana de 4 dias de trabalho. Como na Islândia, onde tal medida tem dado um resultadão em termos de produtividade. Aliás, até digo mais. Tendo nós de ganhar tanta produtividade, porquê ficar pela semana de 4 dias de trabalho? Proponho, desde já, a semana de 3 dias de trabalho. Como solução transitória, claro. Apenas como passo intermédio rumo ao objectivo final, que é a semana de trabalho de 7 minutos e 29 segundos. Aí sim, cuidado com a competitividade do nosso Portugal. Entretanto, eu, como não trabalho à jorna, passarei a escrever crónicas de 35 caracteres. Já bem bom. Dá para um título. Dos curtinhos.

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