O World Economic Forum lançou, finalmente, uma campanha contra o excesso de positividade. Nada de novo na mensagem. Tanta gente já o disse e o WEF só agora acordou. Apenas peca por aparecer tarde. Bastante tarde.

Se a positividade pode contribuir para um boost no teu bem-estar e na resiliência que se espera poderes ter ao stress e até dar-te uma perspetiva de vida mais larga e uma estabilização nas várias empreitadas da vida, por outro não passa de um engodo. Ou seja, o lado positivo das coisas, se exagerado, pode apresentar-te um lado verdadeiramente negro da vida.

Forças-te a seres imbatível a todo o custo.

Minimizas as emoções difíceis, a tristeza e a fúria.

Ignoras os teus verdadeiros problemas e não consegues sequer lidar com eles.

Ademais, a positividade tóxica estraga a tua empatia. Acabas até por perder as experiências com outras pessoas.

Se dizes a um amigo a sofrer para olhar para o lado positivo das coisas é porque não percebeste de facto a vida nem sequer te importas com o teu amigo.

Esta positividade tola pode reduzir-te a oportunidade de cresceres, o que normalmente acontece com experiências difíceis. Pode criar-te sentimentos de culpa e de vergonha ao tornar-te incapaz de gerir momentos menos bons porque estás sempre em negação quanto à sua existência.

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Ora como diz a campanha do WEF, e bem, sentimentos de tristeza e de raiva são normais. E deves saber lidar com eles.

Mais, diria eu, sem raiva, sem depressão, sem tristeza não teríamos a pintura que temos, a música que temos, a arte que temos. Porque boa parte da arte e da beleza que vemos nessa arte vem da passagem pela nostalgia, pela profunda tristeza, pela capacidade de ir fundo e expressar a profundidade do que sentimos. Essa expressão tem sido fundamental para a humanidade ao longo dos séculos.

As redes sociais alimentam uma cultura suavezinha, fluffy, sobre a vida. As conversas que emergem das redes sociais ou por causa delas tornam-se superficiais e olham para o copo como estando sempre meio cheio. E ele nem sempre está. Há factos. Há copos meio vazios. E há copos vazios, caramba.

Acordar desta letargia do excesso de positividade é de facto uma absoluta necessidade.

Enfrentar a vida com realismo, com vontade de experienciar momentos bons e momentos maus faz parte deste nosso processo. Não penses que tens mais anos de vida porque, apesar de teres perdido uma venda continuas a dizer-te a ti mesmo que ainda é possível. Ou apesar de teres perdido um cliente continuas a achar que ele ainda pode ser teu. Ou apesar de a aula te ter corrido mal continuas a achar que afinal foi o cor-de-rosa da vida.

Nada disso. Perdeste, perdeste. Correu mal, correu mal. Não precisas distorcer ou generalizar negativa ou positivamente. Precisas é de assumir. Uma perda é uma perda, uma derrota é uma derrota, um falhanço é um falhanço. E não apenas como se diz por aí, e mal: só tenho vitórias, o resto é feedback. Caramba, acordares desta letargia bacoca e sem conteúdo é uma obrigatoriedade.

Não te tornes patético ao ponto de achares tudo bom.

Não te faças de parvo com os copos meios cheios.

Equilibra a tua vida com bom e mau. Porque bom e mau vão sempre existir. E vive o que de mau tem a vida pois isso dar-te-á força para renasceres e para ires à luta.

A positividade tornou-se apenas um excesso, como outros. Sinal de que há cor-de-rosa a mais na tua vida.