Não sei quanto a vocês, mas eu já tratei de ter o meu acidente de viação, com consequente quebra de braço, desta temporada. Escutei com muita atenção – como sempre, aliás – as declarações da Dra. Graça Freitas segundo as quais “Agosto não é um bom mês para se ter acidentes ou doenças” e, este ano, não guardei o meu acidente para o último dia. Como costumava fazer, confesso. Desta vez decidi ser prudente, escolhi com antecedência um bom muro no qual esbarrar com o automóvel, meti a primeira, e avancei decidido a ser vítima de um acidente ainda em Junho. Com bastante antecedência, portanto.

Só me preocupa o facto de o braço partido não ser, tecnicamente, uma doença. E sinto alguma urgência em apanhar qualquer maleita que seja já nos próximos dias. Se alguém tiver uma boa enfermidade para me pegar agradeço o contacto. Até porque estou fartinho de passar os fins de tarde no shopping a lamber corrimões de escadas rolantes. E mesmo assim não há maneira de apanhar coisa nenhuma. A ideia que me dá é que estas últimas estirpes da COVID já não valem para nada.

A propósito de pragas, está a decorrer, em Lisboa, a Conferência dos Oceanos. Certame que junta ao antigo internacional português que se notabilizou ao serviço do Sporting e Real Sociedad todos os demais indivíduos também de nome Oceano espalhados pelo mundo, para um conjunto de colóquios em que se abordarão as temáticas inerentes à partilha do nome próprio Oceano. Mentira. Infelizmente. Porque, isto sim, seria um certame interessante.

Mas não. Lamento ser o portador da má notícia, mas a Conferência dos Oceanos é mesmo uma conferência sobre os oceanos. Ainda por cima promovida pela ONU. O que significa que logo a abrir tivemos, claro, António Guterres. Desta vez a afiançar que são tantos os perigos que assolam os oceanos, mas tantos, que enfrentamos “uma urgência oceânica” equivalente à do clima. Ou seja, já tínhamos a urgência climática e agora temos a urgência oceânica. Continua-nos só mesmo a faltar a urgência obstétrica para fazermos o Três em Linha das urgências.

Já que mencionei o ramo da medicina que se ocupa da gravidez, mencionarei também o meu espanto pelo Efeito Borboleta a que assistimos nos últimos dias: como pode uma decisão de um tribunal americano sobre o aborto desencadear um tornado em Portugal. O Primeiro-Ministro afirmou-se “decepcionado” com a decisão do Supremo Tribunal dos EUA, que poderá, eventualmente, levar a leis estaduais do aborto mais restritivas. O Bloco de Esquerda condenou a “decisão infame”. E a Iniciativa Liberal considerou que a decisão “representa um retrocesso no que respeita a direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, em especial das mulheres”. Só uma questão. Em que medida uma decisão que poderá permitir que menos vidas humanas inocentes e indefesas sejam voluntariamente destruídas, pode ser decepcionante, infame, e um retrocesso no que respeita a direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, em especial das mulheres? De outra forma. Como pode a possibilidade de nascerem mais bebés ser decepcionante, infame, e um retrocesso no que respeita a direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, em especial das mulheres?

Em princípio não pode. O mais provável é estas reacções serem produto de pouca reflexão. O que, à partida, seria uma crítica pouco abonatória a boa parte da nossa classe política. Só que não é, porque de acordo com uma senhora que é antropóloga e se chama Brenna Hassett, “a infância pode ir até aos 40 anos”. Sim, sim, leram bem. Diz esta especialista que a idade adulta pode, afinal, começar aos 40 anos, e que isto é uma tendência crescente. Se é. Aliás, é muito fácil constatar que há já casos de infantilidade aos 73 anos. É só abrir qualquer jornal e constatar o que anda a fazer nesse dia o Presidente da República.

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