Está tudo farto, cansado, desesperado. Quando passa esta pandemia? Ninguém ao certo sabe. As crianças não suportam viagens longas e vão quase o tempo inteiro a perguntar quando chegamos. E nós, pacientemente, lá vamos respondendo que estamos quase. Queremos ensinar os mais pequenos que devem ter paciência para esperar, a aceitar o tempo que leva a chegar.  Envolvidos todos por este contexto, vamos todos também perguntando, neste caso  quando voltamos,  aos tempos de normalidade não pandémica. E temos de nos responder que não durará para sempre e temos de aguentar a espera. A espera, a virtude desejável para não desanimar.

No senso comum diz –se que a paciência é sinal de sabedoria. É sábio economizarmos as nossas emoções para não entrarmos em loops de irritação e ansiedade, dominados pela empertigada impaciência.

Ter paciência estimula a capacidade de tolerância. Vivendo nós não isolados e em constante relação com os outros, somos convidados muitas vezes a fazer uso da nossa paciência. Mesmo com aqueles que mais nos identificamos, aqueles que mais gostamos, possuímos pontos de divergência e ritmos diferentes. De modo a não viver num constante conflito, e num regime ditatorial, vamos aceitando as diferenças entre uns e outros com moderação. Afinal a riqueza relacional é plural.  Perante as dificuldade da vida, não temos também outro remédio senão aceitar que quando não temos solução e controle das situações, resta-nos a paciência. Como dizia Joseph Joubert, ensaísta francês de há dois séculos atrás, a paciência é a única solução para o que não tem solução.

Por mais vontade que haja em acelerar tempos adversos, temos de viver o tempo onde estamos e saber que atrás deste virá outro. Tal como a persistência que mantemos face a um trabalho exigente para atingir bons resultados, a perseverança em nos mantermos à tona sob mares revoltos, faz com que não nos afundemos e adiante suspiremos de alívio. Ora, temos de nos esforçar e “simplesmente “ aguentar.

Encarar o esforço como uma aprendizagem e olhar para o pulsar da vida que continua pode ajudar a colocar os desabafos de impaciência de lado. Vamos continuando a estar em contato com aqueles que gostamos, a conversar com os amigos, a celebrar casamentos e aniversários, a nos entristecer com más noticias, a resolver problemas mundanos, a mediar conflitos interpessoais, a educar os filhos e a ajudá-los a crescer, a tomar decisões importantes, a cumprir as tarefas do trabalho, a surpreender-nos com pequenas e grandes alegrias do dia-a-dia. A vida lá vai continuando.

anaeduardoribeiro@sapo.pt

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