Semana Europeia do Desporto | 23 a 30 de setembro

Pode parecer um contrassenso para muitos, mas o movimento é a melhor solução para manter a coluna saudável e resistente. Exemplifico com o meu caso: há 20 anos, fui submetido a uma cirurgia a uma hérnia discal lombar, o que me marcou não só como paciente, mas também como médico ortopedista e cirurgião de coluna. Durante grande parte do meu tempo, ajudo os meus doentes a superar dores, a recuperar mobilidade e a encontrar soluções para problemas que também conheço de perto.

Com o passar dos anos, aprendi que a verdadeira chave para manter a minha coluna saudável é o movimento. O exercício físico tornou-se a minha âncora: levanto-me às 5h20 e às 6h começo o treino. Encontro na disciplina do treino a força de que a minha coluna precisa para enfrentar os desafios do quotidiano. O corpo, por mais frágil que pareça, responde à dedicação com resistência e equilíbrio.

Frequentemente, ouço que, em caso de dor, o melhor é evitar qualquer tipo de esforço. Há uma vasta evidência científica a negar isto. Todo o exercício físico tem o seu lugar, desde que seja realizado de forma adequada, respeitando as limitações individuais e, acima de tudo, proporcionando bem-estar. A chave está em estimular a prática de forma regular, porque é a consistência que traz os verdadeiros resultados. Um corpo que se movimenta é um corpo que se mantém vivo, que resiste melhor ao tempo e às adversidades. O benefício do exercício é universal.

Quando falamos de exercício físico, estamos a falar de muito mais do que simples treino. Estamos a falar de prevenção, de fortalecimento, de criação de resiliência. As recomendações da Organização Mundial da Saúde são claras: os adultos devem realizar pelo menos 150 a 300 minutos de atividade física moderada por semana ou 75 a 150 minutos de atividade vigorosa. Além disso, o treino de força, que muitos negligenciam, deveria ser praticado pelo menos duas vezes por semana, com foco nos grandes grupos musculares. Estes números não são arbitrários. A ciência demonstra que, ao atingirmos esses níveis de atividade, reduzimos significativamente o risco de doenças crónicas, melhoramos a nossa saúde mental e física, e protegemos o nosso sistema musculoesquelético.

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A coluna vertebral, que suporta a nossa existência ereta, é extremamente sensível à inatividade. Para muitos, a dor nas costas não surge de um evento traumático, mas sim de anos de posturas incorretas, de hábitos sedentários, de desatenção ao corpo. Cerca de 80% das pessoas irão experienciar dor nas costas em algum momento da vida. Grande parte destas situações poderia ser evitada ou atenuada com uma abordagem preventiva centrada no exercício físico. O movimento, em vez de ser evitado, deve ser incentivado, com a devida orientação e cuidado. Estudos apontam que o exercício regular pode reduzir em até 30% o risco de dores recorrentes nas costas. Esta é uma estatística poderosa, que sublinha o impacto positivo de um corpo ativo.

Na minha prática clínica, encontro frequentemente pessoas que, com receio de agravar a dor, limitam a atividade física. Esta abordagem leva a um círculo vicioso de inatividade e dor crescente. O corpo privado do movimento enfraquece. Os músculos que deveriam sustentar a coluna tornam-se frágeis, as articulações perdem a flexibilidade, e a dor, em vez de desaparecer, intensifica-se. Não há dúvida: quando feito de forma adequada e sob supervisão, o movimento é a melhor ferramenta para a reabilitação e prevenção de problemas futuros. Cada corpo tem as suas necessidades, mas todos beneficiam de se manterem ativos.

O treino de força não é o único caminho. A natação, por exemplo, oferece um ambiente de baixo impacto onde o corpo pode mover-se com liberdade, reduzindo a pressão nas articulações. O yoga e o pilates, por sua vez, trabalham o fortalecimento do core e o alongamento, promovendo uma maior flexibilidade e um maior equilíbrio. O importante é encontrar uma prática que faça sentido para cada pessoa, que seja compatível com as suas capacidades e que a motive a continuar.

A Semana Europeia do Desporto, que este ano se assinala de 23 a 30 de setembro, é um excelente momento para refletirmos sobre a nossa relação com o movimento. Para muitos, o desporto ainda é visto como algo secundário, como uma atividade opcional, reservada para os momentos livres. Mas a realidade é que o exercício físico deveria ser uma prioridade para todos. Não é preciso ser um atleta para beneficiar do movimento; basta começar, de forma simples, com algo que traga prazer e bem-estar. A prevenção é sempre o melhor remédio e o movimento é a base dessa prevenção.

Na minha própria vida, o desporto é mais do que uma escolha – é uma necessidade. O meu corpo, tal como o de qualquer outra pessoa, responde ao que lhe oferecemos. Se o tratarmos com cuidado, se o fortalecermos com movimento e atenção, ele retribui com saúde. É importante lembrar, no entanto, que nem todas as dores nas costas são resolvidas com exercício físico. Se a dor for prolongada no tempo, irradiar para os membros, ou se houver alterações da função motora ou sensitiva, é fundamental procurar a opinião de um médico especialista em coluna para investigação e tratamento adequado.

Que esta Semana Europeia do Desporto seja um convite para todos se moverem. Não importa a modalidade, a idade ou o nível de aptidão física. O importante é começar, com consciência, com determinação, e, acima de tudo, com a vontade de cuidar do corpo que nos sustenta.