Imaginar a mãe nos tempos mais imemoriais da Humanidade talvez nos ajude a entendê-la melhor. Com fome e com condições de vida absolutamente precárias. Com exposição, desde muito cedo, ao desamparo, aos maus tratos e à violência. Sem contracepção. Com experiências sucessivas de maternidade. Correndo riscos de vida que decorreriam de não terem nem gravidezes nem partos planeados e assistidos. Com exposição a perdas que resultavam de taxas de mortalidade infantil exorbitantes e assustadoras. Vítimas de maus tratos. Vítimas de assédio,  de abusos e de violações. Com limitações inacreditáveis na sua autonomia, resultantes dos compromissos com a maternidade que foram tendo. E com carências financeiras que não  lhes permitiam ser donas da sua liberdade. Sem protecção social nem protecção religiosa. Assim foi sendo, por séculos e séculos, a vida das mães.

O que se torna inacreditável (e quase “incompreensível”) é que as mães, apesar de todo o sofrimento a que foram sendo expostas; apesar de todas as maldades e de todas as injustiças, transformaram a precariedade biológica dos recém-nascidos em amor. E foram capazes de dar — de dar, interminavelmente, duma forma bondosa e despojada — o que não tinham e o que não lhes davam. Transformando as experiências de sobrevivência dos filhos em ligações tão profundas e tão entranhadas na natureza humana que o amor quase parece ter-se tornado num imperativo genético. Quando foi por causa das mães que se inventou o amor!

Hoje, ser mãe continua a ser, para muitas mulheres, gerir a família. Gerir a casa. Gerir os compromissos e a vida dos filhos. E ter um trabalho. Ao qual se acresce o “trabalho de mãe”. Que pressupõe que se chame por ela, de dia ou de noite, sempre que a sua presença se torna inadiável. Será assim a vida da maioria das mães. Sem horários. Sem folgas. Sem sindicatos de mães. Com os filhos que, muitas vezes, quando crescem, a “apontarem”, por vezes, aquilo que elas lhes “deveriam” ter dado (ainda) mais.

Hoje é o Dia da Mãe. A mãe não é uma invenção da Humanidade. Mas talvez a humanidade seja, pelo contrário, uma invenção das mães.

Obrigado, mães!

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