Gostava de vos lançar um pequeno desafio, já ouviram falar na palavra «Magis»?

Ao iniciar-se o período de férias o que pretendemos ler são, normalmente, textos que nos relaxem, que não nos obriguem a ir muito ao fundo das questões e que sobretudo nos tragam algum entretenimento e diversão para descomprimir de um ano de trabalho, cansativo, por vezes desgastante e em muitas situações dominado pela incerteza e pela insegurança.

Esta palavra que faz parte do léxico comum dos ex-alunos da Companhia de Jesus em Portugal e no mundo tem sido talvez aquela que melhor define e nos ajuda a concretizar a missão para a qual estamos destinados. Esta missão, que em boa verdade são várias missões que se vão transformando ao longo do tempo, tem nos dias que correm uma base que se calhar muitos desconhecem. O Superior Geral dos Jesuítas, P. Arturo Sosa sj, comunicou em 2019 a toda a imensa família Inaciana as Preferências Apostólicas Universais.  Desta forma, no período 2019-2029, “(…) As preferências pretendem desencadear um processo de reanimação vital e criatividade apostólica que nos faça melhores servidores da reconciliação e da justiça”.

Se recuarmos ao final do século passado, o P. Pedro Arrupe sj, deixou-nos uma frase que recordamos sistematicamente e que nunca, como hoje, fez tanto sentido: “Compete à Companhia de Jesus e às suas diferentes estruturas de ensino/formação formar homens e mulheres para os outros”. Isto é, formar homens e mulheres capazes de participarem, viverem e serem felizes no mundo de hoje, comprometidos com a construção de um futuro melhor.

Os ex-alunos da Companhia de Jesus, em Portugal e no mundo, reunidos em julho passado em Barcelona, no seu X Congresso Mundial, foram desafiados a pensar de que forma é que devem intervir na sociedade com este objetivo.

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Da nossa parte, temos bem presente e claro que só o conseguiremos fazer recorrendo a algumas linhas de orientação definidas no âmbito da espiritualidade Inaciana. As nossas ações devem, por isso, centrar-se num processo de discernimento profundo tendo sempre presente que sendo cada pessoa criada à imagem de Deus deve ser respeitada na sua dignidade.

Atualmente, como sabemos, o mundo encontra-se dividido por conflitos e graves desigualdades por isso compete-nos escolher de lado queremos estar e como pretendemos fazer a diferença.

É essa consciência que nos leva a aceitar o convite de servir quem quer que seja, onde quer que seja, acolhendo sem discriminar. Devemos, olhando ao concreto, procurar em cada momento o que é mais urgente, necessário e toca um número mais significativo de pessoas. Não podemos hesitar, não podemos adiar, não podemos baixar os braços porque achamos que a missão é impossível.

Temos no nosso vocabulário de ex-alunos da Companhia de Jesus a palavra «Magis» porque para nós a procura do «Magis» não é, nem pode ser, a luta por uma perfeição abstrata. É procurar, em cada situação, a resposta que mais se aproxima do estilo de vida de Jesus, o caminho que nos faz crescer no serviço e no compromisso que Deus nos pede. É o alimento que necessitamos no dia a dia para podermos levar por diante as diferentes missões que nos são confiadas. Temas como o papel da mulher na sociedade, sustentabilidade, migrações, inovação e impacto social, educação e tecnologia são pontos sobre os quais temos que nos debruçar e, de alguma forma, contribuir para uma reflexão estruturada, profícua mas sempre adaptada e ajustada aos dias de hoje.

Termino como comecei: as nossas ações devem centrar-se sempre num processo de discernimento profundo na procura do «Magis». Isso significa que não é o que é mais importante que devemos pôr à frente, mas aquilo em que poderemos pôr a render melhor as nossas capacidades e os nossos talentos. O importante é estarmos no sítio onde podemos servir melhor e desta forma sermos capazes de continuar a ser, homens e mulheres para os outros.

Filipe Farelo é candidato à presidência da Confederação Europeia de Ex-alunos Jesuítas