Em que pese o fato de eu ser uma pessoa que chora com alguma facilidade, é bem raro eu chorar com livros. Foram poucas as vezes em que isso aconteceu. Acho, na verdade, que a única vez que me lembro disso acontecer foi ao ler um dos contos do livro No Teu Pescoço, da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.

Atualmente estou lendo a autobiografia da Michelle Obama, encantada com sua prosa, sua clareza de ideias, sua personalidade grandiosa. Essa semana li o trecho em que ela narra a morte de seu pai, quando ela tinha 27 anos. E foi então que eu chorei pela segunda vez enquanto lia um livro.

Falar sobre morte de pai é algo que mexe praticamente com qualquer um de nós. É realmente difícil não chorar com aquela leitura. Recentemente, vários amigos meus perderam o pai. Um número realmente assustador, quase como uma coincidência mórbida, e nenhum deles de Covid-19. Acompanhei alguns desses lutos especialmente de perto, vivenciando a dilacerante dor de perder uma das maiores referências que há na vida.

Mas a verdade é que o pai da Michelle Obama poderia ter vivido mais se tivesse ido ao médico. Se tivesse sido mais zeloso com sua saúde. E, coincidentemente, alguns dos pais desses meus amigos também. Eram doenças tratáveis se descobertas mais cedo, eram ataques cardíacos previsíveis com acompanhamento médico, eram desgraças evitáveis com cuidados relativamente simples.

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Escrevi esse mês para a revista brasileira Glamour, da qual sou colunista, um artigo sobre o quanto a vaidade masculina ainda é tolhida, ridicularizada e até motivo de piada. Mas a verdade é que os cuidados com a saúde também são frequentemente tidos como “coisa de mulher”. E esse texto tem como único escopo, pedir que os homens reflitam sobre os cuidados que têm com a saúde. E, quando falo de saúde, falo da saúde física e da saúde mental.

Marquem consultas regulares. Bebam menos álcool. Façam exames.

Sejam menos ignorantes com a alimentação. Dirijam mais devagar.

Façam atividade física. Cuidem do peso.

Procurem apoio psicológico. Entendam que não é normal estar sempre nervoso.

Lavem as mãos, usem máscara e álcool gel.

Deixem de fumar. Admitam ter medo.

O machismo é uma droga por todos os ângulos — e um deles é fazer com que os homens achem que cuidar da saúde é sinal de fraqueza. Sim, há algumas mulheres que também fazem essas bobagens. E, sim, há alguns homens muito cuidadosos. Mas, se conhecemos a exceção, é porque conhecemos a regra.

“Com aqueles beijos nas costas da minha mão, meu pai estava a dizer que sabia que devia ter ido ao médico muito mais cedo. Estava a pedir perdão. E a dizer adeus.”

Não protagonizem essa cena da vida da Michelle Obama. Não se despeçam daqueles que amam mais cedo do que seria necessário. Cuidem-se, sobretudo nessa fase em que a saúde ganhou um novo significado. Vocês merecem e as suas famílias também.