Aristides de Sousa Mendes foi um grande homem. Um homem bom, crente, que num momento crucial, durante a II Guerra Mundial, arriscou tudo para salvar vidas e pagou caro por isso. Os atos praticados por Aristides de Sousa Mendes contribuíram em muito para colocar Portugal definitivamente do lado certo da História. Perante aquilo que testemunhara, Aristides de Sousa Mendes não hesitou. A sua capacidade de distinguir entre o bem e o mal tornou inevitável a sua decisão de agir. Portugal, tal como o mundo inteiro, reconhece os feitos extraordinários de Aristides de Sousa Mendes. Ainda no passado mês de janeiro, a propósito das comemorações em Jerusalém dos 75 anos da libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa prestou homenagem a este grande português.

Porém, nos dias seguintes a estas comemorações, a liderança do CDS revelou-se incapaz de defender a memória de Aristides de Sousa Mendes, optando por proteger aqueles que, na liderança do partido, procuram enxovalhar o bom nome do cônsul português. Aqueles que preferem honrar a PIDE e que valorizam o modelo da extrema-direita anti-Semita francesa. Aqueles que invocam a obra de um negacionista, um homem que Hannah Arendt descreveria seguramente como ‘banal’, cujo único fim foi denegrir a memória de Aristides de Sousa Mendes. Será que a opinião deste homem banal teria sido diferente se, em vez de judeus, Aristides de Sousa Mendes tivesse salvado nazis em fuga?

Conforme referiu a Comunidade Israelita de Lisboa no seu comunicado de 30 de janeiro, onde condena as declarações de carácter anti-Semita e racista que ofendem a memória do cônsul português, “qualquer ofensa à memória de Aristides de Sousa Mendes, Justo entre as Nações, é uma ofensa a todos os judeus e não judeus que foram salvos da barbárie nazi durante a II Guerra Mundial.” A incapacidade de honrar este grande homem é também uma ofensa a todos os portugueses e a todas as pessoas de bem. Por isso, o país foi rápido em perceber a escolha que tinha que ser feita e não aceitou, e nunca aceitará, a incapacidade da liderança do CDS em a fazer. Entre o bem e o mal não há “equívocos ou mal entendidos”. Tal como Aristides de Sousa Mendes, é preciso agir, custe o que custar.

O CDS é um grande partido, do qual muito me orgulho em pertencer e de ter integrado as suas listas às eleições europeias de 2019. É um partido com uma grande diversidade de pessoas, que têm em comum a partilha de princípios e valores essenciais. É um partido que também celebra os avanços conseguidos pelo Concílio Vaticano II e, em particular, a tolerância e aproximação entre religiões e a rejeição do anti-Semitismo. Os portugueses sempre reconheceram ao CDS a capacidade de ser consequente com os princípios e valores que defende. Como todos os partidos, o CDS é mais do que qualquer liderança. Aqueles que elogiam a PIDE e a Frente Nacional não têm lugar em nenhum partido democrático, e muito menos na liderança do CDS.

O impacto das ações de Aristides de Sousa Mendes é incalculável e os seus efeitos serão duradouros e visíveis ao longo das muitas gerações que salvou. Já o Talmude ensina que “quem salva uma vida, salva toda humanidade.”

Sejamos todos capazes de honrar a memória de Aristides de Sousa Mendes e de seguir o exemplo deste grande homem, que num dos momentos mais negros da História, com grande sacrifício pessoal, foi capaz de tomar a decisão certa: a única decisão possível.

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