Apesar das conhecidas incertezas, como as dúvidas que a pandemia Covid-19 ainda provocava, e de novos desafios que se fizeram sentir, em particular o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o ano de 2022, para o setor imobiliário em Portugal, revelou-se, de forma geral, bastante positivo.

Com efeito, antecipamos, para o mercado imobiliário de 2023, um mote semelhante ao do início de 2022: um arranque cauteloso, provocado pela conjuntura que atualmente se vive, mas que certamente se demonstrará positivo, sustentado na confiança que este setor sempre apresentou e continua a apresentar para diferentes perfis de investidores, sejam nacionais ou estrangeiros.

Porém, não bastará confiar no que de bom temos e que até aqui foi feito para acreditar que a atração atual pelo mercado imobiliário português se manterá. Um dos principais entraves à promoção do nosso mercado prende-se, passados todos estes anos, com a necessidade de criar não só melhores infraestruturas para elevar a qualidade das cidades Portuguesas, fomentando simultaneamente as regiões interiores, mas também desburocratizar os processos de licenciamento, um combate antigo que, infelizmente, parece não ter fim à vista.

Também devemos ter em conta que, se Portugal está no radar internacional, e que o investimento imobiliário tem sido fundamental para alavancar a nossa economia, não nos podemos dar ao luxo de, levianamente, tentar replicar políticas pretensamente públicas totalmente alheadas da nossa realidade. Sabemos que proibir é o caminho mais fácil, mas também sabemos que não costuma trazer os resultados esperados, como se viu com as restrições à concessão de golden visa através de investimento imobiliário nas grandes cidades.

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Já sabemos com o que podemos contar este ano: um recorde de inflação com o aumento das taxas de juro e o aumento dos custos dos materiais de construção. Aumentos, no plural, que podem ser vistos como nuvens no caminho.

É que em 2022, e de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (“INE”), Portugal registou uma taxa de inflação média anual de 7,8%, o valor mais elevado desde 1992, sendo que as projeções do Banco de Portugal nesta matéria apontam para uma taxa de 5,8% em 2023.

Os custos de construção, que dispararam desde fevereiro de 2022 com o início da guerra Rússia-Ucrânia, agravaram-se ainda mais com o aumento da taxa de inflação, registando-se, em novembro de 2022, um aumento na ordem dos 11,7% em termos homólogos, conforme dados disponibilizados pelo INE.

É certo que os desafios assinalados terão, com maior ou menor intensidade, um impacto transversal em todos os setores.

Contudo, estes desafios tenderão a fazer-se sentir mais na classe média e classe média-baixa que, caso os rendimentos das famílias não acompanhem estes aumentos, terão maiores dificuldades em recorrer a financiamento e, consequentemente, em dispor de poder de compra. Será de prever, por isso, algum abrandamento no segmento residencial.

Mas, como disse no início: podemos arrancar com cautela, mas acredito que iremos terminar 2023 com razões para dizer que foi um bom ano. Na verdade, o mercado imobiliário Português continua a destacar-se no panorama internacional, mantendo-se como um país atrativo para o investimento estrangeiro, distinguindo-se nomeadamente pelo seu clima e condições de segurança.

Estas características “privilegiadas”, levam a que, dos segmentos do ramo imobiliário que poderá continuar a impulsionar fortemente a procura crescente por parte de investidores, é o turismo. A resiliência demonstrada nestes últimos anos e a recuperação deste setor que marcou 2022, posicionam o turismo como uma das áreas mais procuradas pelo os players do mercado. No setor do turismo, é expetável que 2023 traga muitas oportunidades de transações interessantes.

Já o setor residencial, sobretudo na vertente de luxo, também se perspetiva que vá apresentar resultados positivos. A realidade ao dia de hoje continua a demonstrar uma escassez de oferta face à procura existente, fomentando, assim, o interesse dos investidores neste ramo. Em 2023 é igualmente expetável que continue a crescer o investimento nos setores alternativos das residências séniores e das residências para estudantes.

Moral da história: se as oportunidades se avizinham variadas e com potencial, temos que saber continuar a atrair investimento. Não podemos achar que o bom tempo e a segurança são uma espécie de mão invisível que tudo resolve. Temos que continuar a criar no nosso país um clima propício ao investimento, com segurança, previsibilidade e estabilidade fiscal, mas também uma melhoria significativa no que se refere à agilização dos procedimentos urbanísticos. Para isso é necessário estarmos focados e não entrarmos em fantasias.