A incontinência urinária feminina constitui uma verdadeira “epidemia silenciosa”, atingindo cerca de 30% das mulheres em idades compreendidas entre os 30 e os 60 anos. Sabemos que uma em cada três mulheres terá tido incontinência urinária em algum período das suas vidas, situação com grande impacto do ponto de vista social, profissional e, muitas vezes, também sexual. Existem vários tipos de incontinência urinária, sendo que os mais frequentes são a incontinência urinária de esforço, a incontinência urinária de urgência e a incontinência urinária mista.

A incontinência urinária de esforço caracteriza-se pela perda involuntária de urina com os esforços, como tossir, espirrar, correr, ou qualquer movimento que esteja associado a um aumento da pressão intra-abdominal. Existem muitos fatores na sua génese, nomeadamente, obesidade, múltiplos partos vaginais (a cesariana parece ter um efeito protetor), tabagismo, entre outros, que parecem contribuir para o enfraquecimento da musculatura pélvica (que é um dos responsáveis no mecanismo da continência urinária), bem como para a hipermobilidade uretral, um fenómeno responsável pela incapacidade de a uretra conter a urina.

Existem vários tratamentos disponíveis para esta patologia e que devem ser discutidos com o seu médico urologista. Para além de tratamentos conservadores e com uma eficácia dependente da gravidade da incontinência, temos a fisioterapia do pavimento pélvico, bem como terapêutica farmacológica. O tratamento cirúrgico da incontinência urinária de esforço consiste fundamentalmente nos slings sub-uretrais. São fitas sintéticas que são colocadas imediatamente abaixo da uretra (através de uma pequena incisão na parede anterior da vagina) e que impedem a sua hipermobilidade, preservando assim a continência urinária. É um procedimento simples, rápido, com baixa taxa de complicações e com enorme eficácia (cerca de 90%).

Não se tratando de uma doença dita “urgente”, como é o caso da oncológica, numa situação de pandemia como a que vivemos atualmente, pode existir a tendência de adiar este problema. No entanto, quanto mais precocemente fizermos o diagnóstico, mais hipóteses temos de obter melhores resultados, mesmo com terapêuticas mais conservadoras.

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Já a incontinência urinária de urgência caracteriza-se por uma vontade súbita e intensa de ir à casa de banho, originando perda involuntária de urinária. Na sua génese está, frequentemente, a bexiga hiperativa, uma doença que se caracteriza por contrações involuntárias da bexiga e que obrigam os doentes a ter de urinar de forma imediata e repentina, onde quer que estejam, tendo por isso consequências enormes a nível pessoal, bem como profissional.

Este tipo de incontinência está presente não só em mulheres, tipicamente em idades compreendidas entre os 30 e os 60 anos, mas também nos homens, podendo constituir as primeiras queixas de HBP (Hiperplasia benigna da próstata).

O tratamento consiste fundamentalmente em medicamentos orais que impedem estas contrações involuntárias da bexiga, nomeadamente, os anti-colinérgicos ou fármacos mais recentes e com menos efeitos adversos, como os agonistas dos receptores Beta 3 da bexiga. Estes são eficazes e melhoram rapidamente a qualidade de vida dos doentes. Quando a terapêutica farmacológica não é eficaz, é possível fazer uma injecção directa de toxina botulínica (mais conhecida como Botox) na bexiga, através de um procedimento simples e minimamente invasivo, com excelentes resultados.

Tendo a incontinência urinária um impacto tão marcante na qualidade de vida dos doentes e sendo o tratamento eficaz, encontro nesta altura uma necessidade de alertar as pessoas para o não adiar da sua resolução. A pandemia de Covid-19 não pode nem deve ser motivo para deteriorar as restantes áreas da nossa saúde.