Pessoalmente, adoro o discurso de Martin Luther King: “I have a dream”.

Neste discurso King fala sobre o sonho americano e a igualdade de direito dos negros, apresentando a visão de um futuro melhor com uma retórica extraordinária. É emocionante, poético, inspirador e faz-nos lembrar o poder que temos para influenciar e motivar através da oratória.

Martin Luther King foi o líder mais proeminente do movimento americano pelos direitos civis das décadas de 1950 e 1960 e uma das personalidades heroicas da história americana. No entanto, tal como uma fotografia que capta um determinado momento, este discurso mostra apenas uma das várias competências de liderança que detinha. King, para além de inspirar, atuava sobre os problemas, moldava consensos entre grupos com diferentes objetivos, e demonstrava ser um indivíduo com caráter – para ele os processos eram tão importantes como os resultados.

Atualmente quase todos os líderes querem ser inspiradores e agitar as paixões das suas equipas para atingir um desempenho revolucionário. Motivar e inspirar são temas de tendência. Lemos revistas, ouvimos podcasts, juntamo-nos a grupos de liderança, estudamos em escolas de negócios e vemos imagens de líderes de rostos sorridentes em todos os meios de comunicação.

Mas inspirar não chega. Não queremos líderes que sejam apenas inspiradores. Queremos líderes que tenham a resposta adequada no momento adequado e com a intensidade adequada.

Queremos líderes capazes de passar à prática com ações que demonstrem o seu compromisso, porque senão dificilmente serão credíveis ou confiáveis.

Queremos líderes que sejam capazes de fazer perguntas, porque senão dificilmente vão perceber as suas equipas, de onde vêm as suas opiniões e quais as suas preocupações.

Queremos líderes capazes de dar feedback, porque senão as suas equipas terão dificuldades em melhorar e crescer, e pessoas que melhoram e que crescem ajudam outros a crescer também.

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Queremos líderes capazes de resolver problemas, porque senão até o colaborador mais motivado pode ficar desmoralizado, porque é difícil estar inspirado quando recorrentemente temos um projeto bloqueado ou tarefas e prazos que se sobrepõem.

Queremos líderes que, mais do que motivar bons comportamentos normativos – aqueles que temos quando seguimos as regras –, motivam bons comportamentos espontâneos – aqueles que temos quando trazemos o melhor de cada um de nós para os desafios que enfrentamos –, porque senão, serão apenas autoridades – pessoas a quem as equipas responderão para não ter problemas, mas que não seguirão se tiverem essa opção.

E queremos líderes que sejam capazes de promover a proatividade, a inteligência coletiva e a corresponsabilidade, porque senão estamos a gerar dependência e frustração de expectativas ao centralizarmos a visão e a responsabilidade de resolução de conflitos num único indivíduo.

Num mundo marcado pela volatilidade, complexidade e incerteza, líderes que mostram estas características tornam-se as pessoas que os outros querem seguir.

Lembrarmo-nos de Martin Luther King, pode fazer-nos sonhar. Um dos meus sonhos é crescer como líder e contribuir para o desenvolvimento de uma nova geração de pessoas capazes de mobilizar equipas para enfrentar desafios em conjunto e fazer sobressair o melhor de cada um de nós. Líderes íntegros que vejam que temos capacidade para mudar, que confiam, mesmo quando os clientes nos falham, mesmo quando há conflitos dentro da nossa própria empresa, mesmo no meio de uma pandemia, e até no meio de uma crise energética. Porque juntos estaremos sempre mais perto de conseguir resolver todo e qualquer problema e isso é de relevar.

Núria Amorim é IT Project Manager na Metyis. Tem uma Licenciatura em Gestão pela Universidade de Aveiro, um Mestrado em Gestão pela NOVA School of Business and Economics, e uma Pós-Graduação em Business Intelligence & Analytics pela Porto Business School. Profissional com mais de dez anos de experiência consultoria e gestão de projetos internacionais, incluindo projetos na África do Sul, em Angola, Espanha, Guiné Bissau e Holanda. Começou a re-imaginar negócios através dos dados e da tecnologia em 2018. Foi ainda Vice-President of Public Relations no Oporto Toastmasters Club, onde ainda se mantém como membro, e faz parte da equipa do DSPT (Data Science Portugal).

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.