Segundo um estudo recente, os evangélicos são o grupo religioso menos apreciado nos Estados Unidos. Acrescentaria, sem qualquer base estatística para tal, que provavelmente o mesmo acontece na Europa. Como seria de esperar, isto tem suscitado o interesse de uns quantos. Não chega a primeiro lugar quem quer—só quem pode mesmo. E, vistas as coisas desta perspectiva, os evangélicos preparam-se para sofrer o que geralmente acontece com quem adquire a pior reputação: a inveja dos outros.

Ser apreciado é a pior coisa que pode acontecer. A pessoa fica atrelada ao apreço que os outros nos têm, canina e servil. Não é fantástico que hoje em dia, com o advento de tantos famosos, desfile diante dos nossos olhos o fenómeno inolvidável de uma multidão escrava da multidão? Considero um espectáculo único: multidões apaixonadas por multidões, num vórtex de canibalismo de aprovação. Que tempos privilegiados estes, de vermos sinais do Apocalipse tão nítidos no dia-a-dia mais banal.

Com a graça de Deus podemos admitir que o não-apreciado é livre como o apreciado nunca poderá ser. O não-apreciado adquiriu a qualidade de viver independentemente do que os outros pensam. É típico confundir o apreço com o amor e, nessa confusão, proclamar que o último vencerá—mas o que é assustador nessa frase é que, assim sendo, o amor, que está a ser confundido com o apreço, não respeita quem quiser viver sem ele. Estamos todos obrigados a ser derrotados pelo amor (que está a ser confundido com o apreço), é isso?

E se a pessoa quiser dizer: “não, obrigado”? Apesar de eu, à semelhança da maioria das pessoas, ser também deslumbrado pelo apreço dos outros, tem-me valido o facto de, por ser evangélico, e consequentemente cada vez menos apreciado, ir aprendendo a dizer “não, obrigado” a essa tal aprovação que é confundida com o amor. Vou dando por mim espantado por momentos em que reconheço que não me apreciam e, estrondosamente!, não me odeio assim tanto por causa disso… Está a acontecer um milagre em mim, suspeito!

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Acredito que dentro do coração de cada pessoa há a pequeníssima semente desse milagre que existe quando, na morte do apreço que os outros nos têm, nos nasce nova vida. Estou certo até que alguns, mais atentos, já sonham com isso mesmo. É sobretudo entre estes que a inveja se instala quando, a pretexto de estatísticas como a mencionada, sabem que os evangélicos são o grupo religioso menos apreciado. Consigo sentir um brilho de raiva nos olhos de uns quantos, quando verificam que ficaram para trás, sendo ainda tão apreciados.

O desgosto de ter uma religião respeitável é um sofrimento insuportável, bem sei. E bem sei porque aqui e ali já me respeitaram—hoje é coisa felizmente mais rara. A pessoa respeitada por aquilo em que acredita suporta o pior dos Infernos, é pau mandado de qualquer um, dirigida até pelas burrices mais chapadas. Recordo-me que noutros tempos, quando até na imprensa recebia elogios (vejam bem as tragédias que tive de suportar!), a consideração de qualquer patego exercia propriedade sobre mim.

Não tenho a certeza do que dentro de mim foi mudando mas provavelmente foi a leitura mais atenta de textos como o de Marcos 8:36. E isso fez bater certo que ser apreciado é ter nos outros a nossa vitória. Já pensaram em coisa tão triste como ter nos outros a nossa vitória? Eu não quero que os outros sejam a garantia de que ganhei. No que diz respeito aos outros, ganhar tem sido o meu problema. Agora prefiro aprender que ganhar o mundo é perder a alma—e parece que até as estatísticas o confirmam.