A voz é o meio preferencial da comunicação humana. Apesar da evolução tecnológica, continua a ser a forma mais imediata de transmitir a mensagem, os afetos e os ensinamentos. Tal como acontece com a nossa respiração, habitualmente não pensamos na voz. Na realidade, só quando sentimos alguma limitação ou a sua perda, nos apercebemos da sua importância fundamental para o nosso dia-a-dia: transversal à população, é ainda mais marcante nos profissionais da voz, isto é, naqueles que a usam como instrumento de trabalho, como os professores, cantores, atores, advogados, padres, vendedores e tantos outros.

Quando utilizamos incorretamente ou excessivamente as estruturas que produzem a voz, nomeadamente as pregas vocais – gritar, falar muito alto durante muito tempo – ou por outros mecanismos que não dependem dos nossos hábitos vocais – infeção, inflamação, alergia, tumores – podemos desenvolver doenças da voz. A maioria delas manifesta-se por rouquidão, embora possam ocorrer outros sintomas como a perda da voz (afonia), dor a falar ou engolir, a sensação de garganta irritada ou seca, cansaço fácil a falar ou a sensação de aperto no pescoço.

Entre as principais doenças que afetam as cordas vocais, destacam-se os nódulos vocais, que são pequenas lesões benignas que crescem porque as cordas vocais fazem atrito uma na outra com demasiada força, enquanto vibram. São os conhecidos “calos” das cordas vocais e são mais frequentes em mulheres e crianças, sobretudo nas que falam muito e muito alto. O tratamento é realizado habitualmente através da terapia da fala, sendo a cirurgia reservada para casos pontuais. Os pólipos e os quistos são também tumores benignos, que crescem muitas vezes devido ao esforço da voz, mas que necessitam muitas vezes de cirurgia associada à terapia da fala. A cirurgia das lesões benignas é realizada de forma minimamente invasiva, com microscópio, podendo ser utilizada tecnologia de laser.

O refluxo ácido do estômago para a faringe e laringe – e as laringites – são causas frequentes de inflamação das pregas vocais e rouquidão. Nestas circunstâncias é importante tratar a inflamação e não forçar a voz para não provocar o aparecimento de outras lesões.

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A paralisia das pregas vocais ocorre quando há lesão nos nervos que comandam as pregas. Pode afetar predominantemente a voz ou a respiração, dependendo de envolver uma ou as duas pregas vocais. O tratamento consiste na terapia da fala e em diversas técnicas cirúrgicas, dependendo do grau de gravidade.

Outro problema que afeta as cordas vocais é o cancro da laringe, muito associado ao tabaco. O seu diagnóstico precoce é determinante para o sucesso do tratamento e redução das sequelas relacionadas com o mesmo. Por regra, uma rouquidão que persista por mais de 15 dias deve ser observada por um médico otorrinolaringologista para diagnóstico e orientação precoces, nomeadamente se estivermos perante um fumador.

Na presença destes sintomas, a procura de um especialista é muito importante porque na consulta podem ser realizados, de imediato, exames com tecnologia endoscópica que possibilitam uma avaliação mais pormenorizada, permitindo efetuar um diagnóstico mais preciso e instituir o tratamento mais indicado.

No diagnóstico e na reabilitação vocal pré e pós-operatória, é determinante o trabalho de equipas multidisciplinares de otorrinolaringologia e terapia da fala.

Para prevenir os problemas devemos evitar falar muito alto ou durante períodos prolongados, assim como em ambientes muito ruidosos, mas também fazer períodos de repouso da voz. Devemos evitar ainda a exposição a fumo, pó e ar condicionado, assim como o álcool, o café ou o chá preto em excesso, reduzindo o uso da voz quando estamos constipados e mantendo um estilo de vida saudável.

Cuide da sua voz.