Em 2012, uma encarregada de educação pediu/exigiu falar com a professora de Matemática, pois o filho, que frequentava o 8º ano, queixou-se que era perseguido.

O Diretor da Turma perguntou se eu tinha disponibilidade para me reunir  com a encarregada de educação. Eu informei-o que poderia falar com a mesma desde que fosse na sua  presença .

A mãe chegou com ar altivo, o Diretor de Turma fez as apresentações. “O que pretende?” – questionei.

A encarregada de educação respondeu que eu enviava recados que, segundo o filho, seriam de justiça duvidosa e por isso o  aluno se sentia perseguido. Seguidamente, começou a desabafar, que não conseguia que o filho estudasse e por aí adiante. Ao fim de 10 minutos disse a chorar que já não sabia o que fazer.

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Respondi-lhe: “Se a Senhora não sabe, nós também, por vezes temos essa dificuldade aqui na Escola.”

Informei-a que o aluno era regular, não tinha hábitos de trabalho, poderia ter o nível 4 se estivesse atento. Que era muito falador e que também deveria pensar nos alunos que querem trabalhar.

A encarregada de educação não tinha mais nada a questionar.  Saiu da sala. Percebi também que alguns encarregados de educação precisam de desabafar.

Nos anos letivos seguintes, na qualidade de Diretora de Turma, tive sempre o cuidado de colaborar com os encarregados de educação, informando-os sempre sobre a falta de assiduidade ou outras ocorrências.

Em julho de 2019, uma funcionária bateu à porta da sala de aula e avisou-me que uma professora se tinha queixado que os alunos do 10º ano estavam a fazer muito barulho.  Questionei a funcionária sobre quem tinha sido a professora. A funcionária não se lembrava.

Eram duas turmas do Ensino Profissional, com 28 alunos e uma aluna. Quase todos os alunos tinham idade superior a 17 anos e com um percurso escolar irregular.

Solicitei à funcionária que, quando se lembrasse, informasse a professora de que já os tinha recebido assim, e que tinha sorte de não ser insultada, nem os alunos andarem à pancada.

Disse o mesmo ao Diretor da Escola e ainda acrescentei que, se existisse alguém com um perfil mais adequado, poderia ceder esta turma a esse professor.

No mês de Setembro recebi de presente a mesma turma, na disciplina de Matemática e como Diretora de Turma. No primeiro período, fazia telefonemas semanais e quando os encarregados de educação não atendiam, fazia os telefonemas às sextas-feiras, às 20 horas, com o meu telemóvel pessoal com o número visionável. Expliquei aos alunos que apesar de serem maiores de idade, não viviam sozinhos.

Nesse ano letivo e no seguinte, os restantes professores já não se queixavam do comportamento da turma. Os alunos já não diziam palavrões na sala de aula e iam trabalhando para os mínimos. Na altura dos confinamentos não desapareceram e concluíram o Curso Profissional.

Em suma, com todos os afazeres que têm, com a dificuldade em conciliar a educação dos filhos, o trabalho e os restantes encargos… é difícil ser encarregado de educação, por isso alguns também necessitam de desabafar.