Foi na noite de 16 de Dezembro de 2001 que recebi a comprovação das entidades competentes de que vivia num pântano. Já tinha decidido deitar-me quando um pressentimento, que adveio do me deparar todos os dias com a realidade de que o país estava podre, me fez ligar novamente a televisão. Para espanto meu o mundo tinha mudado enquanto lavava os dentes. Guterres demitira-se de primeiro-ministro e afinal o país não estava excelente mas vivíamos num pântano. Eu, e muitos que naquele dia não votaram PS, sabia que assim era mas não esperava que o próprio primeiro-ministro viesse confirmá-lo. Também não esperava que dessa noite em diante os comentadores de serviço reconhecessem essa nova realidade como se a nunca tivessem negado. Neste último ponto eu ainda era ingénuo.

A partir daí Guterres passou a ter fama de homem sério. Só porque reconheceu que seis anos de governação socialista conduziram o país para um pântano. Foi obra se tivermos em conta exemplos posteriores com a marca PS. Foi um acto quixotesco se compararmos os dados económicos de então com os actuais. Porque se o fizermos somos forçados a que nos questionemos das artes mágicas de Mário Centeno, da habilidade política de António Costa e do sucesso socialista em que os comentadores de serviço de agora querem acreditar.

1,94% do PIB. Em 2001 foi esta a taxa do crescimento do PIB. No ano anterior fora de 3,82% (dados Pordata). O desemprego estava nos 4%. A dívida pública encontrava-se nos 53% do PIB (dentro das exigências de Maastricht, imagine-se). Visto de agora, a partir de 2019, a situação em 2001 era excelente. A taxa de poupança das famílias correspondia a 12% do rendimento enquanto neste ano se ficará na casa dos 6%, o nível mais baixo de sempre. Se tivermos em conta que não há investimento sem capital, nem capital sem poupança (a não ser que nos endividemos ainda mais) a situação económica em 2001 era, quando comparada com 2019, excelente. Um paraíso. E no entanto, nessa noite, o primeiro-ministro do PS falou verdade dizendo que vivíamos num pântano. Reconheceu o que quem trabalhava no sector privado (e longe das empresas privadas com boas relações com o Estado) já sabia. Houve um vislumbre de lucidez que desapareceu de imediato pois não passou de um pretexto para sair de cena. Para se desresponsabilizar. Lavar as mãos. Nunca a expressão ‘com a verdade me enganas’ será tão bem empregue como para retratar o que aconteceu nessa noite.

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