O meu pai amava Portugal. Amava profundamente o seu país, ao qual entendeu dedicar a sua vida. Jovem inteligente e inconformado, discípulo fervoroso de D. António dos Reis Rodrigues, junta-se a todo um grupo de universitários talentosos católicos que aspiravam fazer a diferença num país adormecido onde a fé se vivia mais por tradicionalismo do que por consciência da presença de Deus vivo, presente na Igreja. As cartas de São Paulo marcam-no definitivamente. “De tudo sou capaz naquele que me dá força”. Devora livros, adentra-se na teologia, escreve poesia, consome cinema, visita presos, organiza colóquios universitários.

Terminado o curso de Direito, entrega-se à política com o desejo de uma mudança na continuidade. Urgia fazer sair o país do marasmo no qual se encontrava no final dos anos 50. A Primavera marcelista deu-lhe fôlego para sonhar alto. Foi subindo, com entrega e a tenacidade que sempre o caracterizou, todos os escalões da função pública: subdelegado do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência, subsecretário de Estado das Obras Públicas, secretário de Estado do Trabalho e Previdência e, em 1973, ministro das Corporações e Segurança Social e responsável pelo Secretariado Nacional da Emigração. Tinha 37 anos.

O 25 de Abril trocou-lhe as voltas. Viu-se obrigado a deixar o país. Contrariando o nosso ditado, longe da terra mas não longe do coração. Regressou no início da década de 80. Gestor de empresas, docente universitário, vice-presidente da Associação Industrial Portuguesa, mas a política sempre a permear o seu pensamento.

No início dos anos 90 envolve-se mais ativamente no futuro de Portugal, acreditando que o PS de Mário Soares poderia sacudir o país e aproximá-lo mais da Europa. Anos mais tarde dizia, com pesar, que “o PS de Soares tinha morrido às mãos de Sócrates e Costa”.  Abandonou o PS. Começou a escrever livros onde se colocavam perguntas de difícil resposta. Perguntas necessárias para se compreender o Portugal de hoje. Temia um país governado por compadrios e sem uma oposição frontal. As últimas eleições, que deixaram um país todo pintado de rosa, confirmaram os seus maiores receios. Continuou a lutar nos bastidores tentando animar aqueles que entendia poderem reerguer o país, a cabeça lúcida até ao fim, uma tenacidade invulgar.

Não se vergava diante das contrariedades da vida, fazendo suas as palavras do apóstolo dos gentios “Combati o bom combate, completei a corrida, perseverei na fé!” ( 2 Timóteo 4, 7-8). As suas últimas palavras, deixadas a um grande amigo, “Ganhei a corrida!”.

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