Podem fazer várias cimeiras sociais com o carimbo de “inovadoras” porque contam com a participação da sociedade civil e têm como pilar norteador a “implementação dos princípios do Pilar Europeu dos Direitos Sociais será essencial para assegurar a criação de mais e melhores empregos para todos, no quadro de uma recuperação inclusiva”. Porém o que se sente é que este é um jogo viciado.

Está a ficar muito difícil de jogar!

Em 1964 Kardashev apresentou a sua escala de medição do grau de desenvolvimento tecnológico de uma civilização. São três níveis. Nós, de acordo com a escala, estamos no nível 0. A nossa energia deriva (essencialmente) de animais e plantas mortas, ainda temos conflitos de ordem religiosa e ainda discriminamos com base na cor. Carl Sagan diz que nos faltam 0.3 pontos de progresso para passarmos ao nível 1. No próximo nível podemos atingir o nosso o auge evolutivo ou sucumbir num suicídio global.

Com uma pandemia às costas e com as notícias dos últimos tempos arrisco dizer que: VAMOS TODOS FALECER!

Muito dramática!

Recentemente fomos informados que 32,9 % dos pobres em Portugal têm trabalho estável. Isto é, 1 em cada 3 pobres trabalha! Para que fique mais claro, estamos a falar de pessoas que cumprem as regras do jogo. Contribuem para a sociedade. Porém, a mesma não cumpre com a sua função de garantir qualidade de vida a quem para ela contribui.

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Se calhar, porque não se contribui de facto para a sociedade no geral. Parece que estamos a contribuir para uma oligarquia.

Atenção, acho muito importante que se gere riqueza, esta por si só não é perversa. Perverso é o sistema montado que invalida que todos possam beneficiar da mesma. De que nos servem milhares de avanços tecnológicos e científicos se não garantimos qualidade de vida às pessoas que têm um emprego?!

O que se sabe hoje, é que as fortunas mundiais crescem durante os períodos mais negros da nossa história. Crescem muitas vezes á custa da redução dos direitos laborais, da asfixia financeira, de políticos corruptos, do desrespeito pelos acordos ambientais ou em cima de conflitos sociais.

Se calhar não vamos todos falecer, mas vamos sucumbindo perante uma realidade asfixiante. Já não basta trabalhar, é preciso ter um segundo emprego e investir num projeto pessoal. Já não basta estudar, temos de ter um percurso irrepreensível com experiência internacional e até interplanetária, para poder ganhar um pouco mais.

Há uns tempos fui fazer uma visita a um imóvel cujo preço pedido, pela bela moradia, era de 600 mil euros. Tipologia T3 e não tinha hectares de terreno, apenas zona de churrasqueira e de jardim. Isto em pleno interior do país!

É esta asfixia financeira que nos faz ter vontade de sucumbir! Sente-se o peso opressor de um sistema que ninguém compreende e parece montado apenas para beneficiar alguns.

Será assim tão estapafúrdio querer ter acesso a casa própria? Para a geração dos meus pais não era um luxo. Era um projeto que se iniciava com suor. Hoje já não basta o suor do trabalho.

É a ausência do reconhecimento do mérito profissional que nos faz querer atirar a toalha, a nós, uma geração qualificada, que empobreceu face à anterior.

O jogo está viciado! Temos de voltar a pôr as cartas na mesa, baralhar e voltar a distribuir.