Como é evidente, não possuo prova material do que vou dizer. É mera especulação política. Dito isto, se porventura o Presidente da República (PR), o primeiro-ministro (PM) e os membros do PS receavam de algum modo a influência negativa para a opinião pública que a abertura do processo penal contra José Sócrates, Ricardo Salgado e os outros acusados teria na campanha eleitoral do ano que vem, assim como da eleição para a PR em 2021, se assim era, pode-se dizer que essa preocupação poderá ter desaparecido em pouco dias.

Também nunca viremos a saber se a manutenção da procuradora Joana Marques Vidal no cargo de PGR teria um efeito diferente na evolução do processo «Marquês». Também nunca saberemos que efeitos poderia ter nesse mesmo processo o sorteio realizado imediatamente após o anúncio da substituição de Marques Vidal e que determinou a escolha do juiz Ivo Rosa. Longe de mim pretender reescrever a história passada e muito menos inventar a futura. Porém, o PR, o PM e o PS não se admirarão que uma fatia significativa da opinião pública reaja pensando que se trata de coincidências a mais. Com razão ou sem ela, é esse o ruído que encherá os ouvidos de boa parte da opinião pública se porventura o juiz agora escolhido pelo computador vier a declarar a inocência dos acusados, como os próprios e muitos dos seus defensores naturalmente desejam.

Resumindo o que já todos perceberam há muito, o país ficará mais dividido do que nunca, como o Brasil, entre aqueles a quem este processo não convém politicamente e aqueles a quem convém. A verdade, infelizmente, como o presidente Trump e uma infinidade de outros líderes mundiais demonstram todos os dias, é algo de muito precário. A diferença entre new se fake news está sobretudo nos olhos de quem lê e nos ouvidos de quem escuta… Há já 60 ano que Niklas Luhmann dizia na sua Sociologia do Direito que a legitimação da justiça se faz pelos procedimentos. E são efectivamente estes que serão, por sua vez, julgados pela opinião pública.

Ora, o mínimo que se pode dizer do actual governo e dos seus apoiantes é que o seu forte não é a confiança que inspiram. É mais o dinheiro que escorre para o bolso dos eleitores… e depois lhes vão buscar sob a forma de taxas e taxinhas: basta pensar no petróleo, que nos últimos 3 anos chegou a baixar para menos metade enquanto o preço nas bombas se mexeu de alguns cêntimos que neste momento já estão a subir de novo! Ora, segundo todos os manuais de ciência política, a confiança é o bem mais precioso que pode circular na sociedade.

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Em Portugal, ela foi sempre um bem escasso e hoje em dia deve ser mais escasso do que nunca. No Brasil, a uma semana da votação para o primeiro turno das eleições presidenciais e várias outras, mais de metade dos eleitores brasileiros não têm confiança nos resultados, provavelmente sem razão, mas é desta falta de confiança que se fazem as más democracias, onde os vencidos se sentem enganados e os vencedores se crêem livres para fazer o que quiserem. É a situação em que ambos os países se encontram cada vez mais: sem confiança!

Que mais evocar a este respeito do que a fantochada do roubo de Tancos? O que pensar desse aparente ministro da Defesa que já teria sido corrido em qualquer outro país? Se as nossas forças de defesa são estas, o que dizer das forças de ataque? Que dizer da fantochada de Angola, em que primeiro se obrigou a justiça nacional a devolver um antigo vice-presidente à protecção angolana, para depois fazer uma viagem diplomática idêntica àquela que teriam feito ao «Zé Du» e da qual, à parte as dívidas, só resultaram as lamentáveis declarações pós-coloniais que recordam os gritos de «Angola é nossa» que se ouviam antes do 25 de Abril»? Isso só faz pensar na inopinada declaração de Mário Soares, ao dizer uma vez que «o Brasil é a nossa fronteira natural de expansão»… De modo tal que apetece perguntar ao actual ministro dos Negócios Estrangeiros o que faremos se e quando a Venezuela de Maduro nos devolver dezenas de milhares de madeirenses?

Não é difícil imaginar a série de fake news com que as entidades governantes e a sua comunicação social nos brindarão. Afinal, o crédito aos estudantes universitários anunciado pelo falecido ministro do PS, Mariano Gago, não está disponível, enquanto a «mídia» deplora que um curso universitário custe em média 4.500€ por ano, quando o rendimento desse investimento é, comparado com os outros países, dos mais altos do mundo! Afinal, para terminar o elenco de promessas impossíveis de cumprir que o governo fez voto a voto, descobriu-se que o anúncio absurdo de que o INFARMED iria para o Porto era, afinal, fake! Se é lícito arriscar, nunca ninguém acreditou nisso… Entretanto, os comboios não andam apesar de uma dívida de milhares de milhões de euros… Eis, pois, do mais grave ao mais banal, como é baixa a confiança inspirada pela geringonça governamental. Ninguém diga que não sabe o que nos espera!