A confiança do Presidente Putin nos habitantes da Federação da Rússia é “tão grande”, que os seus assessores e conselheiros procuram, afincadamente, novas formas de afastar, de uma vez por todas, a oposição extraparlamentar russa das eleições parlamentares marcadas para Setembro.

O grande e principal objectivo é neutralizar as actividades de Alexey Navalny e dos seus apoiantes. Depois da tentativa falhada de envenenamento de Navalny pelos serviços secretos russos, ele foi sujeito a julgamentos com sentenças pré-definidas: condenação a prisão e pagamento de pesadas multas.

Mas como essas medidas da “justiça russa” provocaram o descontentamento de milhares de pessoas no país, principalmente entre os jovens, e protestos no estrangeiro, Putin decidiu “cortar o mal pela raiz” e colocar a organização social “Quartéis-generais de Navalny” na lista das organizações extremistas e terroristas. Não importa o facto de não existir uma organização social na Rússia com esse nome, o principal é calar o líder da oposição extraparlamentar.

No dia 17 de Maio, um tribunal de Moscovo irá apreciar a proposta de equiparar o Fundo de Combate à Corrupção e outras organizações ligadas a Navalny a organizações terroristas, mas já não há dúvidas da sentença da “justiça” putinista.

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Isto significa que, a partir de agora, essas organizações não poderão interagir com os órgãos de comunicação social, publicar informação na internet, organizar manifestações, participar em eleições. Sempre que essas organizações sejam citadas nos órgãos de comunicação, estes devem lembrar que se trata de uma “organização terrorista proibida na Rússia” e de “organizações não-comerciais que cumprem funções de agente estrangeiro”.

O primeiro objectivo é amedrontar os apoiantes de Navalny, porque, caso se manifestem nas ruas ou participem em actividades políticas, poderão estar sujeitos a pesadas penas de prisão, pois serão julgados por terrorismo.

Este processo de perseguição dos opositores já teve lugar antes e sob os pretextos mais bizarros. Alguns dos mais destacados políticos próximos de Navalny tiveram de emigrar para evitar a prisão, mas outros decidiram ficar no país e estão a sofrer as consequências.

No dia 29 de Abril, por exemplo, o Tribunal de Arkhangelsk, cidade do Norte da Rússia, condenou Andrei Borovikov, um representante local de Alexey Navalny, a dois anos e meio de prisão por partilhar nas redes sociais o vídeo da canção “Pussy” do grupo de rock Rammstein.

Richard Kruspe, baterista dos Rammstein, comentou assim a sentença: “Lamento muito que Andrei Borovikov tenha sido condenado a essa pena. A dureza da sentença é chocante. Rammstein defendeu sempre o princípio da liberdade de criatividade como direito fundamental do homem.”

Estas perseguições visam outro objectivo importante: além da proibição de organizações e de políticos ligados a Navalny participarem nas eleições parlamentares marcadas para o Outono, elas tentam impedir a organização do “voto inteligente”. Ideia realizada em escrutínios anteriores, esta consiste em concentrar todo o apoio num político que seja da oposição à “Rússia Unida”, principal muleta de Vladimir Putin na Duma Estatal (Câmara Baixa do Parlamento da Rússia). Até pode tratar-se de um candidato da oposição obediente: Partido Comunista da Federação da Rússia, Rússia Justa, etc.

Desta vez, Navalny e seus apoiantes irão ver impedida a realização dessa tarefa e a “Rússia Unida”, através desta e de outras ilegalidades, irá conseguir chegar à maioria absoluta.

A onda repressiva crescente não se fica só pela proibição de organizações e pessoas ligadas a Alexey Navalny, mas abate-se também sobre os advogados que defendem os opositores e os jornalistas. Diariamente, são relatos casos de buscas e detenções.

Além da grave crise existente na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, que, a qualquer momento, poderá originar sérios confrontos militares na Europa, as perseguições lançadas contra a oposição russa são outro motivo da guerra fria existente entre o Kremlin e o chamado Ocidente.

Agentes secretos russos ou “voluntários” ao serviço de Putin realizam operações terroristas em vários países europeus (República Checa e Bulgária), envenenam opositores políticos (Grã-Bretanha), lançam ataques informáticos (Estados Unidos, União Europeia), abatem aviões civis (Ucrânia), pilham aldeias e vilas, violam mulheres (República Centro-Africana), e quando os países reagem e exigem explicações, o dirigente russo, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, faz uma figura de inocente, que convence cada vez menos pessoas, e ameaça com “respostas assimétricas”.

Moscovo prefere atirar todas as culpas para cima da NATO, dos Estados Unidos e da União Europeia, tentando passar a imagem de que a ditadura de Vladimir Putin é praticamente o único “anjo do bem” que defende a humanidade dos demónios acima citados, não aceitando qualquer tipo de crítica.

A continuação desta política apenas fará aumentar o isolamento internacional da Rússia e não contribuirá para o desanuviamento de um clima que há muito não se via nas relações internacionais.

Os dirigentes russos voltam à velha política externa que nunca acabou bem: em vez de granjearem respeito e prestígio, querem impor receio e medo. A Rússia e os seus povos merecem respeito… o mesmo não se pode dizer dos seus dirigentes.