Há pessoas que pedem desculpa por tudo e por nada (mesmo quando pedem um café). Há pessoas que se ficam pelo “desculpa… lá”. E pessoas que não pedem desculpa. Aliás, parecem ser cada vez mais raras as pessoas que pedem desculpa. De olhos nos olhos. De forma sentida. E de olhar perscrutante. Esperando que o nosso entendimento sobre a sua responsabilidade as “liberte” da culpa que sentem.
Na verdade, são mais as pessoas que, a pretexto duma falha que tenham tido, parecem não ser capazes de assumir o que fizeram. Parecendo viver como uma espécie de humilhação a necessidade de pedirem desculpa. Ficam, geralmente, pelos: “problemas no sistema” (a culpa é dos computadores…). Pelo: “lamento…” (que corresponde ao “temos pena” dos adolescentes). E, numa versão mais actual, pelos “problemas de comunicação”. Que, como a comunicação tem duas vias, quer dizer, de forma manhosa, que a culpa do que correu mal é tanto delas como nossa.
Se a responsabilidade é uma culpa que se assume, a culpa será um remorso que não se tolera. Então, talvez seja por causa de todas as culpas que acumulam que as pessoas lidam tão mal com o des-culpa. Como se mais uma pequena culpa fosse o remorso que falta para que desmoronem.
É verdade que há uma sucessão de acontecimentos que se condicionam uns aos outros e que fazem com que a culpa daquilo que somos pareça tornar-nos vítimas do passado. Mas, feitas as contas, somos o que somos em função de escolhas da nossa responsabilidade. Qual é mal, se sermos responsáveis dos nossos actos nos torna capazes de aprender com os erros?
Eu acho que só quem tem orgulho pede desculpa. Orgulho de reconhecer um erro. Orgulho daquilo que se é para além dos seus erros. Orgulho de aprender com os erros. E orgulho de não viver preso à eminência de não errar para que gostem de nós. Se for assim, é urgente que se reabilite o “Desculpe!” Porque o orgulho é o antídoto da culpa. Na falta do orgulho sobressai a vergonha (embrulhada em sobranceria) de não sermos capazes de pedir desculpa. Talvez o “lamento…” sirva mais para manifestar a pena que quem não sossegue pedir desculpa tem por não conseguir ser melhor do que para justificar o que quer que seja de mal que tenha feito .