As eleições brasileiras vieram confirmar o que há muito se desconfiava. O mundo mudou.

Dia após dia, eleição a eleição, assistimos ao desencanto dos eleitores com o tradicional sistema partidário. À esquerda e à direita, soluções populistas vêm pôr a nu as deficiências de um Centrão moderado, onde cada vez menos pessoas depositam a sua confiança.

Estamos, portanto, enquanto moderados, perante um desafio hercúleo.

Carece de forma urgente, uma autoanálise. O que leva as pessoas a esta descrença? Será o imobilismo e a incapacidade de adaptação às novas realidades? Serão os constantes casos de pequena corrupção que abalam os partidos do sistema? Fará sentido a manutenção do status quo, onde a alternância garante que nada muda, de forma a manter um sistema mutuamente benéfico? Haverá ainda lugar para uma realidade de “nós e eles”, onde a política e os centros decisórios estão de acesso interdito, exceto a uma pequena corte de formação partidária? Faz sentido continuar de costas voltadas com a sociedade civil? A legislar para um país que não existe e onde as medidas não têm qualquer eco na prática? Será possível continuar com a sobranceria de quem se sabe intocável, onde, aconteça o que acontecer, um sorriso e 125,00 euros pagam a próxima reeleição?

Não podemos continuar a pensar que o eleitorado se deixa encantar pelo canto da serpente do populismo. Nada mais errado que isso.

O eleitor sente-se ouvido, sente que alguém olha para a sua realidade e o tenta “agarrar”.

Em muitos raros casos os populismos estão a roubar eleitores fiéis e contentes com os partidos do sistema. O crescimento dos partidos extremistas está a ser feito através da “laranja do chão”, pessoas que não são bafejadas pela sorte de pertencer à bolha política e que, assim, são deixados ao abandono por parte do tradicionalismo.

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Urge recentrar as prioridades. A prioridade são as pessoas. Governar com as pessoas, e para as pessoas. O socialismo, a social-democracia, a democracia-cristã, e todas as outras correntes de pensamento político foram fundadas de forma humanista e antropocêntrica. É tempo de parar de governar para o sistema e começar a governar com uma finalidade, o bem-estar global da população. A forma como lá chegamos, se nacionalizamos ou privatizamos, de baixamos o IRS ou o IRC, se apontamos a “Bazuca” às empresas ou às obras públicas, pouco importa nesta fase.

Precisamos de refundar o sistema, sim, mas na sua origem. O serviço do Estado deve ser encarado com carácter de missão e não de emprego.

No fim do dia, a laranja do chão pode dar menos sumo individualmente, mas toda junta pode encher o copo. Nessa altura cada um beberá do copo que encheu.