É conhecida a expressão “os extremos tocam-se”. De forma a ver se tal preposição continua verdadeira, fui ler – não sem sacrifício – as opções políticas do português Bloco de Esquerda, assim como as do denominado “protofascista” Viktor Orbán da Hungria.

Assim, e para começo de conversa, lemos na Declaração de princípios – “Começar de novo” – (o manifesto político de lançamento do Bloco) um ataque à globalização, nos parágrafos – “Globalização uma civilização da injustiça”, “A globalização contra o desenvolvimento”, “A globalização contra a cidadania”. Como é bom de ver pelos títulos (e poupo o leitor ao arrazoado) o Bloco está contra o movimento que – comprovadamente – retirou da pobreza extrema, centenas de milhões de seres humanos em todo o Mundo. Fez uns mais ricos? Claro que sim, mas o problema não é existirem ricos, é o de existirem pobres.

Quem perora contra a globalização? Assim que me lembre, o Orbán da Hungria e o Presidente Trump. É verdade, esses dois alvos da retórica “bloquiana” defendem o mesmo.

Duas das primeiras medidas de Orbán foram a abolição das propinas universitárias e a universalização dos benefícios à maternidade. O Bloco apoia, julgo.

Na última Moção vencedora, “A força da esperança”, o Bloco afirma que as forças reaccionárias da União Europeia tentam travar o Brexit. Ora, não é o Brexit uma “conquista” das forças reaccionárias britânicas? Mau! Fico confuso.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quem também carrega forte na UE? O Orbán, pois claro. According to Politico, Orbán political philosophy “echoes the resentments of what were once the peasant and working classes” by promoting an “uncompromising defense of national sovereignty and a transparent distrust of Europe’s ruling establishments”.[71]

Mas onde já li algo parecido? “Construída sempre à revelia dos povos e sem os povos, esta União Europeia seria sempre um projecto contra os povos. Hoje, sendo um projecto condenado pela espiral do desemprego e pela imposição, a União Europeia é uma máquina de guerra contra as pessoas e os direitos sociais. A esperança popular está na luta pelo emprego e pela soberania democrática em cada país e pela emancipação social.” Bloco dixit.

Este exercício, para quem tiver paciência, pode ser repetido em inúmeras matérias. Onde diverge? Nos famosos direitos LGBTQIKHSDFR… Aí sim, são diferentes. Já deve faltar pouco tempo para, em Portugal, o Bloco adoptar a ideia francesa de alterar as fichas dos alunos para que contenham Progenitor 1 e 2, em vez de Pai e Mãe. Acredito aliás, que o Bloco irá mais longe e irá propor o 1, o 1,5 e o 2.

O Bloco de Esquerda nasceu de uma pantominice e continua alegremente no mesmo estilo, tendo este Partido Socialista saído (terá?) do tempo “fantasmagórico” de Sócrates dado a mão, que ele – o Bloco – precisava como de pão para a boca. Por essa razão, os portugueses são obrigados a aturar pessoas intelectualmente desonestas que não dizem verdadeiramente ao que vêm. Pessoas sem qualquer capacidade profissional e/ou académica e que, pasme-se, acham que devem chegar ao Governo da Nação. Pessoas que desvalorizam e relativizam o terrorismo do fundamentalismo islâmico, porque – coitadinhos dos bombistas – são vítimas da globalização. “Só combatendo as discriminações e investindo a sério na coesão social e no diálogo intercultural poderemos conter as forças de que se alimenta a escalada do terror.” (retirado da referida Moção). É, aliás, sintomático desta visão, a classificação – por parte do Bloco – de Israel como sendo uma ditadura. “Deve terminar a venda de armas aos regimes turco, saudita e israelita e a todas as ditaduras.” Podem jogar com as palavras, mas a intenção está lá. Esquecem, no entanto, que Israel é a única verdadeira democracia na região, com eleições livres e onde vigora um Estado de Direito. Sabem quem não gosta de Israel? O Orbán é claro.

Quanto ao modelo de sociedade;

“(..) Orbán repudiated the classical liberal theory of the state as a free association of atomistic individuals, arguing for the use of the state as the means of organizing, invigorating, or even constructing the national community.(..) it is properly called “illiberal” because it views the community, and not the individual, as the basic political unit.[75] (..)”

3.10. O Bloco de Esquerda tem de estar onde estão as pessoas, onde elas mais sofrem, aumentar o enraizamento na sociedade, na empresa, no sindicato, na escola ou na colectividade, procurando fazer movimento, envolvendo todos para uma luta que se adivinha dura.”

Ou sou só eu, ou há aqui semelhanças… Por isso e resumindo: quer um, quer outro, não são recomendáveis.

E por não serem, é obrigatório que os partidos da direita democrática se atenham no que importa e não em discursos patetas que levam ao afastamento, p.ex., das mulheres que tenham um pingo de inteligência e de amor-próprio, ou dos ateus, ou dos homossexuais, ou de quem não tenha um posicionamento ultramontano que já não se usa e que também não se recomenda.

Militante do CDS-PP. Politólogo