O contexto social no qual nos encontramos pode comparar-se a uma enorme “panela de pressão” que aumenta a probabilidade de ocorrência de problemas mentais no nosso círculo de familiares, amigos e colegas mais próximos. O confinamento, a redução de rendimentos familiares, a incerteza quanto ao futuro – excesso de preocupação na mente significa, inequivocamente, mais ansiedade -, sofrimento pelos problemas dos que nos são próximos, problemas de saúde novos que a Covid trouxe, são motivos relevantes para estar instalado o pior cenário.

Na espuma dos dias, somos inundados por um enorme número de opiniões e “achismos” que importa dissecar com pensamento crítico. O cruzamento de experiências e a interligação de conhecimento entre a Liderança Empresarial e as Neurociências, foi a motivação para sistematizarmos uma abordagem que possa ajudar pessoas e organizações a evitar fins indesejáveis.

Os custos do impacto das atrocidades a que sujeitamos o nosso cérebro não estão hoje espelhados nos nossos balanços: nem pessoais, nem empresariais. É por isso um assunto solitário e, ainda que de cada indivíduo, é também de cada empregador.

Vivemos num contexto de pressão acelerada com expectativas de capacidade de trabalho acima do normal, muitas vezes associadas a défice de sono, falta de exercício físico, a par de uma preocupação excessiva com a partilha ao mundo de sinais exteriores de controlo e felicidade.

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De que formas podemos ,objetivamente, trabalhar para minimizar o impacto e intervir de forma mais eficiente?

1Ter em conta o indivíduo e o seu contexto pessoal: doença mental pré-existente, restrição de circulação e mudança de rotina, distância dos entes queridos, trabalho remoto e falta de socialização, incerteza profissional, tratamentos médicos adiados, incerteza social, problemas financeiros. Estar atento e saber que a vulnerabilidade de cada pessoa é diferente e merece atenção diferente.

2 Contextualizar a realidade social e médica em Portugal: o acompanhamento da doença mental é deficiente em Portugal e desigual entre regiões, há abuso de toma de fármacos psicotrópicos, muitas vezes sem acompanhamento psicoterapêutico adequado e não está estabelecida a doença mental como uma prioridade na rede de cuidados de saúde primária nos centros de saúde. Como poderemos, enquanto sociedade – e empregadores – ajudar a colmatar essas lacunas?

3 Reconhecer que o processo terapêutico pode ser longo, tem de ser personalizado e com vários ajustes e só deve ser feito por especialistas qualificados.

4 Comunicar para desmistificar: muita comunicação interna no sentido de desmistificar o tema, para que deixe de ser tabu. Existe o estigma de reconhecer a doença mental no seio familiar e profissional – vulgarmente associada a fraqueza, descontrolo emocional, irresponsabilidade e/ou indisciplina – atrasa a sua identificação, diagnóstico e tratamento.

5 Informar para compreender: concretizar workshops, webinars, sessões em escritório onde se fala sobre stress, ansiedade, depressão e burnout, esclarecendo o que são cada um destes “chavões”, como se manifestam e quais os seus sinais, que em homens e mulheres têm manifestações diferentes.

6 Diagnosticar precocemente: incluir como parte dos screenings de Medicina do Trabalho, sem estigmas na identificação de personalidades mais ansiosas e/ou mais depressivas de forma segura e anónima, por forma a criar competências em ambos – organizações e indivíduos – para lidar com o problema.

7 Inquirir para aferir e prevenir: como complemento ao ponto 6, efectuar a realização de inquéritos anónimos regulares de riscos psicossociais, que nos dão acesso às perceções e experiências das pessoas e assim trabalhar na prevenção de fatores de risco psicossociais. Ter em conta que situações pontuais nas empresas – exemplo da que vivemos – causam pressão acrescida e problemas que precisamos de conhecer.

8 Formar para agir: implementar formações sobre temas tão diversos como psicologia, programação neurolinguística, sono, nutrição e atividade física, entre outras, para que cada pessoa tenha as ferramentas necessárias para cuidar de si, mas também dos outros.

Devemos agir no sentido de criar, nos círculos pessoal e profissional, um ambiente seguro para expor o nosso problema: gerar nas pessoas o conforto e segurança para que doença mental deixe de estar associada à incompetência profissional. É, nos dias que correm, um “problema” de cultura! Não é uma fraqueza, tem de ser tratado com ajuda profissional e pode ter consequências devastadoras se não for identificado a tempo.

No final do dia importa saber se – enquanto empresas, equipas, amigos, família – estamos disponíveis para auxiliar. Acontece a celebridades mediáticas. Mas acontece também aos nossos. Acontece-nos também a Nós!

Liderança empresarial e Neurociências, juntas, para ajudar quem pensa que não precisa de ajuda! Porque o que fazemos, define quem somos.