Sabemos que a FED fará subidas nas taxas de juro pelo menos até aos 4,5-5%. Dita o consenso das casas de investimento.

Sabemos que o BCE fará subidas nas taxas de juro, no limite, até aos 3,5%. Dita o consenso das casas de investimento, mas é arriscado ver 3.5% como taxa de juro. Levaria a EURIBOR a uma espiral.

Sabemos que as EURIBOR a 6 meses estão a 2,7% e irão subir bastante mais. Até aos famosos 3,5% como meta psicológica, e não só, em que várias economias começam a entrar em tilt (Itália e provavelmente nós).

As primeiras taxas sobem para procurar controlar a inflação. A Euribor sobe em consequência do aumento do custo do dinheiro no mercado interbancário. A espiral é de crescimento de taxas de juro de referência.

Assim, depois de muitos anos sem inflação o panorama é inflacionista. E pouco importa discutir agora sobre se as razões da sua origem se verificam pelo lado da procura ou da oferta. Até porque os bancos centrais não têm outro instrumento senão aumentar as taxas de juro. Dir-se-ia que para refrear a procura.

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Não se sabem avaliar bem as consequências do aumento das taxas de juro mas presume-se que seja mais provável uma recessão na Europa que nos EUA.

Neste contexto, o ano de 2023 será francamente complexo:

  1. Não se preveem cortes nas taxas de juro em 2023 depois das subidas (Goldman Sachs).
  2. A Europa tem conseguido diversificar as fontes de abastecimento de energia e se o Inverno não for muito duro, como até aqui, a inflação poderá começar a dar tréguas visíveis lá para meio do ano. Mas a Europa passará por uma mild recession (J.P. Morgan).
  3. Há um consenso quase generalizado de que os resultados das grandes empresas irão colapsar em 2023 e com eles irá ser arrastado o mercado de ações. Porém, a economia tem provado alguma eficiência, o mercado de trabalho continua forte e toda esta conjuntura pode levar apenas à ilusão do colapso com os bear believers a não saírem tão bem da fotografia quanto desejariam (Morgan Stanley).

Parece haver, neste cenário, uma preferência acentuada, e generalizando, por valor em vez de crescimento. Isto traduz-se claramente no mercado acionista.

As ações de crescimento (growth stocks) são as que se esperam que registem elevadas taxas de crescimento tanto nas suas receitas como no retorno aos investidores. O seu risco será maior.

As ações de valor, por outro lado, são as das empresas que negoceiam a um preço mais baixo em relação ao desempenho financeiro da empresa e que normalmente pagam dividendo.

E podemos ter ações que sejam simultaneamente value e growth. Mas são bastante menos frequentes. Exemplo, neste caso, para uma Apple.

Diria eu, a sentimento também e por ilação, que este é o ano dos líderes que procuram valor e não crescimento. Mas como se pode traduzir isto na prática?

Os líderes de valor, opinião minha, são os que usualmente consolidam operações, procuram manter um foco no cash flow e uma tesouraria da empresa operacional, a trabalhar, sem que haja qualquer problema de maior ou sobressalto. Para isso preferem apostar em ações de brand awarness em detrimento de outras ações mais geradoras de negócio.

Já os líderes de crescimento são, digo eu também, os que usualmente consolidam menos, procuram arranjar muito novo negócio baseado em novos produtos e serviços e em fazer crescer empresas e balanços de empresas, tornando os negócios potencialmente atrativos tanto em vendas quanto em resultados (valor futuro). São usualmente agressivos na gestão e procuram, mais que a estabilidade da tesouraria, a estabilidade do crescimento. O seu mindset é, por comparação com o que vem de trás, fazer sempre mais.

Talvez possamos ter passado por momentos onde eram fundamentais os líderes voltados ao crescimento. E onde foi muito importante, de facto, crescer. Talvez também, por leitura atenta dos períodos que se vão viver, aquilo de que precisemos mais no curto prazo sejam líderes voltados ao valor. E uns e outros não são necessariamente as mesmas pessoas dado que têm usualmente características pessoais e profissionais diferentes. Compete, pois, aos acionistas das empresas avaliarem as suas lideranças e saberem se estão perante os líderes certos para os fazer atravessar um ano – ou mais que isso – como aquele em que entrámos.

Nota: Um exemplo bom na política portuguesa pode ser o de Carla Castro, da Iniciativa Liberal. Para um partido novo e com bastante boas ideias é claramente a líder mais interessante no futuro do partido a curto/médio prazo. Posiciona-se, tal como a sua equipa e apoios, muito mais do lado do conhecimento e da consolidação do que de voos irrealistas e palavras ocas. A ponderação, a maturidade, a consistência e a credibilidade parecem nesta aposta ser bastante mais importante que o dizer que “vamos sair das redes sociais para ir para a rua”. A ambição de crescimento é legítima. Mas a consolidação e estruturação do projeto e das ideias deve ser o grande drive. Faço votos para que esteja na liderança da IL a partir da próxima convenção dado que Portugal precisa desta consistência e deste tipo de lideranças.