Dá-me ideia que este podia ser um bom título para uma nova versão da música oficial da nossa capital, a “Lisboa Menina e Moça”. Desde logo, porque a parte do “Menina e Moça” revela alguma preguiça por banda do autor da letra. Sem desprimor para a preguiça que, como é óbvio, é estupenda. Mas, quer dizer, “menina”, “moça”, acaba por ser tudo basicamente a mesma coisa. A não ser que, atenção, “moça” tenha, neste caso, o sentido que é dado à palavra no Brasil, em calão. Nesse caso, sim senhor. O “moça” acaba por ser até muito bem escolhido, na medida em que nos fornece alguma informação extra sobre a ocupação profissional e/ou a moral sexual da referida “menina”. Mas adiante.

“Lisboa Medina e Choça” é então a minha sugestão de nome alternativo para o referido tema musical. Isto na sequência da Câmara Municipal de Lisboa, liderada por Fernando Medina, ter entregado às autoridades russas, os nomes, moradas e telefones dos cidadãos oriundos da Rússia que se manifestaram contra Vladimir Putin. Creio tratar-se de um título que passa bem a ideia de que uma estadia, supostamente despreocupada, na Lisboa de Medina pode sempre redundar em choça, aquando do regresso do cidadão ao seu autocrático país de origem.

Agora, convenhamos que é estranha tal desatenção da CML para com cidadãos nascidos no estrangeiro, quando é sabida a importância do sector do turismo para a economia da nossa capital. Então neste kit oferecido aos cidadãos russos, do qual consta o envio de um pacote com os seus dados pessoais para Moscovo, não consta também, por exemplo, sei lá, um baraço? Para dar a estas pessoas um bocadinho mais de opções, no que à escolha do seu destino concerne. Era uma atençãozinha, não custava nada. Acho eu, mas confesso que não sei a quanto está o cordame.

Mas se é verdade que esta situação é, digamos, muito ligeiramente desagradável, não é menos verdade que delatar manifestantes anti-Putin à Rússia poderá ser muito eficaz para incentivar as estadias de longa duração em Portugal. Que melhor forma haveria de convencer os turistas oriundos de países tirânicos a nunca mais regressarem aos seus países de origem? Não me ocorre nenhuma. E ainda dediquei quase vinte sete segundos a pensar nisso. E mais. Tomo até a liberdade de sugerir um novo slogan publicitário para o turismo de Lisboa:

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Visite Lisboa. Desfrute da liberdade de criticar o déspota que governa o seu país. Nunca mais vai querer voltar para casa.

Ora aí está. Isto já para não dizer que, a partir desta polémica dos dados pessoais enviados pela CML a Moscovo, a capital portuguesa passa a ter mais um argumento para captar este tipo de turismo, para além, claro está, d’ “A luz de Lisboa”. A ideia que me dá é que, também neste caso, podemos estar na presença de um estupendo lema comercial. Vejam lá o que acham:

A luz de Lisboa é única. Venha criticar o ditador do seu país sob este céu límpido, antes de voltar à sua terra e passar a ver o sol aos quadradinhos.

Eh pá, modéstia à parte, ficou bem bonito. Bom, mas vamos lá desdramatizar esta problemática porque, tal como Fernando Medina referiu, ele próprio, na sua juventude, sempre que liderava manifestações contra as propinas, dava os seus dados pessoais à polícia. Está certo que não era à polícia russa. Nem ele é russo. Nem estava a protestar contra as políticas do governo russo. Mas tirando isso, era igualzinho. Protestar contra as propinas em Portugal, protestar contra o sanguinário líder russo, tomayto, tomahto. É igualzinho.

A minha dúvida é se, nesses protestos de há cerca de duas décadas contra as propinas, Fernando Medina seria um daqueles jovens que exibiram os traseiros — felpudos — aos responsáveis pela Educação. Desconfio que não. A julgar pela forma como alijou responsabilidades neste caso, Medina é antes o tipo de político que foge com o rabo à seringa. Não é estadista para expor o traseiro com aquela galhardia com que os grandes estadistas expõem os traseiros.