Igualdade de género ainda é tema de ordem do dia. Infelizmente, ainda é. Infelizmente, as mulheres ainda têm uma representação muito baixa em áreas de tecnologia. Nas grandes empresas tecnológicas internacionais como a Google, a Apple ou a Meta e com preocupações assumidas com a diversidade, inclusão e equidade de género, as mulheres representam entre 32% e 37% da força de trabalho e este número é ainda mais baixo se olharmos para posições mais técnicas, rondando os 24%.

Em Portugal, a percentagem de mulheres especialistas em TIC, apesar de ainda muito desigual, aumentou consideravelmente acima da média da União Europeia de 20,7%, colocando o nosso país em 13º lugar neste campo, com a Bulgária, a Roménia e Malta a liderarem o top3. Estes dados representam uma enorme sub-representatividade do género feminino, não só na tecnologia, como em praticamente todas as áreas e empresas. De relembrar que a igualdade de género é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, uma das metas que se pretende alcançar até 2030.

Felizmente, a desigualdade que se verifica na tecnologia começa a ser encarada como uma oportunidade de fazer diferente, de desmistificar alguns mitos e preconceitos, de trazer à tona temas que até aqui não eram mencionados e a possibilidade de mostrar às mulheres do futuro que as áreas TIC podem ser um caminho de sucesso profissional e de descobrimento pessoal.

Acredito que uma das formas de trazer uma maior igualdade para estas profissões passa por inspirar meninas e mulheres sobre o que significa trabalhar em tecnologia, uma vez que está provado que existe falta de modelos a seguir, um estigma grande relativamente ao género feminino nestas áreas, falta de apoio emocional na família e alguns mitos associados à componente social e criativa na área tech.

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Gosto de falar da importância que os role models podem ter na decisão de enveredar ou não por um percurso nas TIC. Este é um tema que me diz muito. Primeiro, porque também eu tenho uma inspiração, alguém que me trouxe diferentes perspetivas, que fez com que eu pudesse escolher com confiança este meu caminho, que me deu ferramentas para saber o que queria fazer. Segundo, e acho que este é o verdadeiro desafio, porque nem sempre nos colocamos neste papel, o de termos a noção de que somos também a inspiração de alguém e vistas como um “exemplo” a seguir.

Esta palavra role model tem um peso grande. Nós mulheres, tendencialmente perfeccionistas, nem sempre nos permitimos pensar em nós como o exemplo a seguir porque temos sempre de ser excecionalmente boas em todos os campos da nossa vida, sendo a melhor mãe, a melhor filha, a melhor esposa e amiga que conseguimos, e não pensamos que aquelas que serão a futura geração possam olhar para nós como role models porque estamos apenas a fazer o nosso papel.

Tenho a sorte de poder fazer parte de projetos, a nível profissional, que mostram a raparigas e a mulheres que ser uma inspiração, um exemplo a seguir, uma role model na tecnologia significa fazer o balanço certo entre providenciar as competências técnicas necessárias a uma posição e ser, ao mesmo tempo, uma pessoa que ajuda a desenvolver e que mostra as suas qualidades humanas a quem está do outro lado, a aprender e a querer saber mais.

Acima de tudo, penso que a área da tecnologia precisa, cada vez mais, de mentoras, mulheres que estejam dispostas a dar o seu tempo para apoiar outras mulheres e raparigas a escolherem o melhor percurso para si. Acredito também que, aqui, as empresas têm um papel transformador, uma vez que podem ser essas a impulsionar e a implementar programas de mentoria e/ou comunidades de suporte que tenham como objetivo criar uma rede onde pode existir uma voz ativa e impulsionar a mudança, quer no ambiente em que se encontra, quer na sociedade. Entusiasma-me dizer que a FARFETCH é uma dessas empresas, que desenvolveu o programa de mentoria para jovens mulheres – o Mentoring for Girls – e que tem vindo a ter um papel ativo no desenvolvimento para as TIC.

Há-de chegar o dia que igualdade de género, equidade salarial, discriminação de oportunidades, falta de representatividade e necessidade de role models deixam de ser tema de ordem do dia. E que dia feliz será esse.

Formada em sistemas de informação, Cláudia possui oito anos de experiência no setor do retalho somando aos nove anos de expertise em e-commerce. Iniciou o seu percurso profissional na Sonae e é atualmente a líder da área de Produto da FARFETCH desde o início da unidade de negócio FARFETCH Platform Solutions em 2015. É a responsável pela elaboração da estratégia de produto alinhada com o negócio e faz a gestão de 25 clientes.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.