Com sinceridade, já estou farto deste estilo português fraquinho, de fazer as coisas atamancadas, quando podiam e deviam ser feitas da forma correta. Sim, claro, já sei que estão a pensar que somos muito críticos de nós próprios, que até somos muito bons, dos melhores, etc., blá, blá… Mas então porque recorremos tantas vezes a essa malfadada expressão: ‘é um mal menor!’? É que ultimamente isso tem adquirido uma ressonância inusitada.

A teoria do ‘mal menor’ foi exponenciada e ganhou estatuto de sina com a famosa frase de Álvaro Cunhal em 1982: «se uma vez que falou de termos engolido sapos vivos, não sei que bicharocos teríamos que falar no caso de apoiarmos Mário Soares para Presidente da República», para quatro anos após, em 1986, ter declarado o apoio ao ex-Presidente da República.

Nos últimos meses, após a queda do governo, começaram a chover na comunicação as expressões do voto útil, isto é, para esses pretensos especialistas, o voto em partidos minoritários é um desperdício. Não se deve votar nas ideias e nos protagonistas que melhor consideramos que nos representam, caso contrário podemos entrar numa situação de ingovernabilidade. Mas a democracia não deveria ser isso mesmo, a pluralidade de ideias em confronto, em negociação e em cedências partidárias mútuas. Aparentemente deverá ser a consciência individual a ter de ceder, acrescentando poder a quem já o irá ter.

Estes dias retornou o desígnio que nos persegue, a propósito do voto dos ‘confinados’. Até este termo é desagradável, mas reflitamos. Até agora a saúde era o bem maior, mas foi ultrapassado pelo direito a votar, sobretudo porque serão muitos e a coisa pode ser renhida… Então, a solução encontrada não foi a melhor, foi um recurso com muitos ‘ses’, confiando-se no bom-senso dos portugueses – se a vida fosse assim, não eram precisas as leis, seguindo-se com outras recomendações de eficácia duvidosa: não será preferível uma máscara comunitária de qualidade e ‘dentro do prazo’ do que uma cirúrgica que é usada desde o início da pandemia?

Eu gostaria que não fosse necessário recorrermos de novo a militares para as lideranças, até porque isso é uma falácia. O que nós devemos querer e exigir é pessoas competentes, independentemente de onde vêm, do seu sexo, da sua cor, do seu credo ou filiação, para de uma vez por todas seguirmos na linha dos bens maiores!

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