Esteja atento se sentir palpitações, tonturas, cansaço, mal-estar torácico, perda de consciência e alterações na frequência cardíaca, porque podem ser sintomas de arritmia. As arritmias dizem respeito a quaisquer alterações na sequência normal dos impulsos elétricos cardíacos: se forem mais prolongadas poderão causar um aumento – taquicardia – ou uma diminuição – bradicardia.  Algumas arritmias são tão curtas que a frequência cardíaca global não é significativamente alterada.

Para um correto diagnóstico destas alterações do ritmo cardíaco é fundamental a realização de um electrocardiograma no momento da crise, mas dado o caráter intermitente destas arritmias, poderá ser necessária uma monitorização eletrocardiográfica prolongada, através do recurso a exames como o Holter de 24h ou o registador de eventos implantado.

Um diagnóstico precoce é essencial nestas situações, sobretudo porque a gravidade das arritmias é muito variável e é obrigatório diagnosticar e tratar as que podem ser fatais. Há arritmias que condicionam má qualidade de vida pelos sintomas que causam, mas que não têm mau prognóstico, enquanto outras podem ter consequências se não se fizer uma determinada medicação – e há as que podem até levar à morte súbita cardíaca. Prevenir é sempre o melhor remédio.

As bradiarritmias consideradas patológicas, isto é, os “batimentos cardíacos lentos” que não são apenas uma mera adaptação fisiológica – como no caso dos desportistas – são mais frequentes em idades mais avançadas, já que o sistema elétrico do coração também envelhece – e poderão ser tratadas com a implantação de um pacemaker cardíaco. Em caso de cansaço agravado, tonturas ou desmaios, deve ser procurada ajuda médica a curto prazo.

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Em pessoas sem doença cardíaca, as taquicardias com origem na parte superior do coração – taquicardias supraventriculares – e os batimentos prematuros são o achado mais frequente. São condições geralmente associadas a um bom prognóstico, mas que podem interferir significativamente na qualidade de vida. Ao contrário do que nos diz o senso comum, a ingestão de cafeína não parece aumentar o risco ou a frequência destas arritmias.

Por outro lado, nas pessoas que tenham doença cardíaca estrutural, por exemplo enfarte do miocárdio, insuficiência cardíaca ou miocardiopatias, podem aparecer arritmias ventriculares com potenciais consequências gravíssimas e a sua prevenção e tratamento pode passar pela implantação de cardioversores-desfibrilhadores, em casos selecionados. Estas pessoas devem manter acompanhamento médico regular para vigilância da sua doença e, caso sintam palpitações, dor torácica, falta de ar ou perda de consciência, devem ser observados por um médico de imediato.

Uma das arritmias mais frequentes é a fibrilhação auricular. A sua prevalência aumenta com a idade e com fatores de risco como a hipertensão arterial, a diabetes, a apneia do sono ou o excesso de peso. Na população portuguesa com mais de 40 anos a prevalência de fibrilhação auricular é de 2,5%, chegando mesmo aos 9% acima dos 65 anos. Esta é uma arritmia em que estímulos elétricos caóticos nas aurículas inibem a função mecânica destas câmaras cardíacas predispondo à estagnação de sangue e eventualmente à formação de coágulos. Estima-se que a fibrilhação auricular seja responsável por 15% dos Acidentes Vasculares Cerebrais, pelo que a sua prevenção com medicamentos hipocoagulantes é uma pedra basilar do tratamento.

Dependendo do tipo de arritmia, o tratamento pode passar apenas pela tranquilização da pessoa, pela prescrição de medicação ou pelo controlo de fatores de risco ou da doença cardíaca. Quando necessário, poderão ser implantados pacemakers ou desfibrilhadores – ou também ser realizado um estudo eletrofisiológico e uma ablação cardíaca. A evolução nesta área recente da cardiologia é extraordinária e há dispositivos cada vez mais sofisticados e eficazes à nossa disposição.

É fundamental sensibilizar a população para o reconhecimento dos sintomas que possam traduzir alterações do ritmo cardíaco e que devem motivar a procura de observação médica. Adotar um estilo de vida saudável e evitar os fatores de risco são medidas igualmente importantes e que ajudam a manter o seu coração no ritmo certo.