Duas sondagens publicadas esta sexta-feira apresentam resultados bastante diferentes sobre as eleições para a Câmara do Porto. Na sondagem do “Jornal de Notícias”, realizada pela Universidade Católica, Rui Moreira e Manuel Pizarro aparecem empatados tecnicamente. Na do Correio da Manhã e da Aximage, é atribuída uma vitória com maioria absoluta a Rui Moreira. Qual das sondagens é mais credível?

Em 1940, Paul Lazersfeld e a sua equipa realizaram um estudo no Condado de Erie, Ohio, que resultaria na publicação em 1944 de The people´s choice. Este livro tornou-se um marco. Afinal, nas eleições, a influência dos media era menor do que se pensava até então.

Os líderes de opinião dos grupos a que cada indivíduo pertence (amigos, colegas, família) são mais importantes no seu processo de decisão. Foi nessa obra que surgiu o conceito de efeito do carro-ganhador (bandwagon effect). Os indivíduos, em especial os indecisos, votariam no “último minuto” baseados na sua perceção de “quem está à frente” na corrida.

Trinta anos depois, em 1974, a cientista política alemã Elizabeth Noelle-Neumann publicou um dos artigos mais influentes sobre sondagens: “The spiral of silence: a theory of public opinion”. A espiral do silêncio converge em parte com o efeito do carro-ganhador de Lazarsfeld. Os indivíduos observam e monitorizam, no seu meio social, os sinais de força e fraqueza de cada um dos lados em disputa. Ao contrário de Lazarsfeld, Noelle-Neumann considera os media essenciais na formação das perceções dos indivíduos. Mais importante: para a autora alemã, o que move os indivíduos não é a ânsia de se juntarem aos vencedores.

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A baixa autoestima da maioria das pessoas não lhes concede ilusões sobre a possibilidade de subir ao carro dos vencedores; a maioria, temerosa e prudente, quer apenas ir atrás do pelotão. À semelhança de Tocqueville, a autora alemã acha que a maioria teme mais o isolamento do que o erro. Dito de outro modo, os indivíduos dão mais importância ao risco de ficarem isolados do que às suas próprias opiniões. Na verdade, as diferenças entre a espiral do silêncio e o efeito do carro-ganhador são bastante subtis e não vale agora a pena alongar-me mais em divagações filosóficas.

Voltemos às sondagens acima referidas. De acordo com a espiral do silêncio, as duas sondagens podem estar certas, embora reflitam coisas diferentes. A sondagem da Católica (candidatos principais empatados) é, provavelmente, a que reflete melhor a realidade atual. Foi realizada com simulação de voto em urna, o que garante o anonimato. Por outro lado, a sondagem da Aximage (não garante o anonimato) diz-nos, sobretudo, que o Rui Moreira está em vantagem na reta final da corrida. Isto porque a perceção da maioria das pessoas parece ser que ele vai ganhar. A acreditar na tese de Noelle-Neuman, a única hipótese de vitória da candidatura de Pizarro está em alterar esta perceção dos portuenses, em especial dos indecisos, fazendo-os acreditar que a vitória é uma possibilidade bastante real. Caso contrário, Rui Moreira ganha novamente, independentemente de estar (ou não) empatado neste momento.

Professor do Instituto Politécnico da Guarda