sei que nada sei”, terá afirmado o célebre filósofo grego, Sócrates, reconhecendo a própria ignorância. Mas tivesse Sócrates nascido, não em Atenas alguns 500 anos antes de Cristo, mas na Maternidade Alfredo da Costa algures na segunda metade do século XX, e podíamos dizer adeus ao famoso paradoxo socrático. De uma coisa o hipotético filósofo alfacinha estaria totalmente certo: tão cedo não vemos um único cacilheiro elétrico a navegar no Tejo.

Isto porque a Transtejo comprou dez embarcações elétricas das quais nove não têm baterias. O que vem confirmar a tendência a que temos assistido no nosso país, com os governos de António Costa, do Estado meter-se cada vez mais nas nossas vidas. Como se não bastassem já os impostos, as taxas e as taxinhas, agora o Estado quer substituir-se até aos nossos pais. Nomeadamente, naquela situação clássica em que um progenitor presenteia a descendência com um espectacular brinquedo telecomandado, esquecendo-se, no entanto, de comprar as pilhas. E o catraio ali fica, desgostoso, a contemplar um pedaço de plástico inerte, sem qualquer serventia.

Agora, pára tudo. Porque a verdade é que um destes dez novos cacilheiros trazia bateria. Portanto, toca a estrear a nova embarcação ecológica! Mas calma. Estrear, sim, mas só quando a embarcação tiver o casco, que veio danificado, reparado. Sim, porque estas embarcações modernas são assim: se há casco não há baterias, se há bateria não há casco. No fundo, é uma forma de garantir que esta transição da Transtejo para o que de mais moderno se faz ao nível do material flutuante é feita de forma progressiva, sem causar transtorno aos utentes. Que há muito estão em choque com as constantes greves, e assim continuarão em choque ao constatarem a total inoperância dos novos barcos eléctricos.

Mas pronto, dizem que estes novos equipamentos serão uma benção para o equilíbrio ecológico do estuário do Tejo. Mesmo quando, e se, um dia, eventualmente, quem sabe, talvez, funcionarem mesmo. Enfim, eu confesso que de electricidade só sei que dá choque. Mas, por isso mesmo, faz-me espécie pôr uma coisa elétrica a andar dentro de água. Ninguém me tira da ideia que pôr um cacilheiro elétrico no Mar da Palha é mais ou menos o equivalente a atirar uma torradeira para dentro da banheira. Mas tudo bem, avancem.

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E a propósito de acidentes domésticos, rebentou a bernarda entre Presidente da República e Primeiro-Ministro. Depois de anos a fio de uma coabitação tão cúmplice, tão cúmplice, que, inclusive, muitos pais proibiam os filhos de verem o Telejornal não fosse aparecerem Marcelo e Costa em perturbadoras cenas íntimas, eis que o Presidente criticou o plano do governo para a habitação. E, ou muito me engano, ou esta noite o Costa mandou-o dormir para o sofá.

Aquando da apresentação do conjunto de medidas para a habitação por banda do executivo, Marcelo havia referido que “só se sabe se o melão é bom depois de o abrir”. E deve ter sido o que sucedeu. Deu um ratinho ao Presidente, lá foi ele ao frigorifico buscar o melão, cortou uma talhada, e disse nauseado: “Eh, lá! Este melão está todo bichado de socialismo. Que nojo! Blergh!”

E assim poderá ter chegado ao final uma das mais lindas histórias de amor da política portuguesa. E mesmo das histórias de amor em geral, tipo Romeu e Julieta, e tal. E tudo por uma imprudência do Presidente da República. Ao tecer duras críticas ao conjunto de medidas do Governo para a habitação, Marcelo tinha obrigação de perceber que há poucas coisas mais delicadas numa relação do que fazer reparos ao pacote.