De acordo com a sondagem feita pela Eurosondagem S.A. no período entre 31 de agosto e 6 de setembro de 2017, Marcelo Rebelo de Sousa é o titular de cargos políticos com o mais elevado índice de popularidade em Portugal.

Os dados recolhidos apontam para um saldo positivo de 61,7 pontos, uma vez que 72% dos inquiridos manifestaram uma opinião favorável e somente 10,3% consideraram negativo o desempenho presidencial.

Fica assim claro que os portugueses, numa maioria próxima de qualificada, estão satisfeitos com o Presidente da República. Uma tendência que se vem cimentando, apesar de alguns excessos de coloquialidade que começam a ir além do que pareceria recomendável mesmo numa presidência de afetos. As palavras desconhecem o efeito boomerang. São como as setas. Uma vez lançadas não há forma de as fazer regressar ao ponto de partida.

Ora, na sua recente deslocação a Andorra, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “há algum tempo” que, em Portugal, não virava à direita para, logo a seguir acrescentar que “de vez em quando” o fazia “mas a direita não nota” porque “está distraída a bater na esquerda […] em vez de aproveitar”.

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A clareza das palavras presidenciais não autoriza dúvidas sobre a estratégia de Belém. Por norma, mantém-se alinhado com a geringonça. A solidariedade institucional. Excecionalmente vira à direita, mas sem abrir o pisca. Só para ver se a direita está atenta. Uma reminiscência da atividade docente. Avaliar o grau de concentração da turma. Parâmetro no qual, a fazer fé nas palavras presidenciais, a direita – leia-se, o PSD e mais exatamente Pedro Passos Coelho – tem registado nota negativa.

Continua, assim, pouco afetuosa a relação entre Marcelo e Passos. Uma constante a que não serão estranhas as intrigas sociais-democratas.

Como é do domínio público, na fase em que o PSD, no seu XXXV Congresso no início de 2014, resolveu abrir o dossier da eleição presidencial, o então primeiro-ministro Passos Coelho traçou, pela negativa, o retrato do candidato que o partido deveria apoiar. Assim, o PSD não poderia apostar num “protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou num catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político”.

O destinatário era óbvio. Marcelo percebeu e não apreciou. Definiu uma estratégia alternativa. Não desafiou publicamente Passos Coelho. Capitalizou o mediatismo logrado enquanto comentador televisivo. Os quarenta anos do PSD serviram de pretexto para uma volta a Portugal no que concerne às sedes do partido. O apoio das bases ficou garantido. A cadeira de Belém não correu riscos. Ao contrário de Passos Coelho que viu o triunfo nas urnas ser transformado em derrota no Parlamento.

Em Andorra, o vento sopra forte. Qualquer alteração de sentido faz girar os cata-ventos. Além disso, a pressão atmosférica e a quantidade de oxigénio no sangue diminuem por ação da altitude. Não é zona propícia para grandes esforços. Físicos ou intelectuais. Por isso, Marcelo não aceitou aproximar-se da ravina. Atribuiu a sugestão à oposição, mas foi lesto a questionar: “Quem será a oposição ao Presidente que ama todos os portugueses?”.

Uma pergunta-afirmação que talvez tenha levado a oposição – e o seu agora assumido líder – a recordar as palavras de George Orwell sobre a igualdade. Há mesmo uns que são mais iguais do que outros no amor presidencial. Depende das circunstâncias. Tal como o cata-vento.