A actual situação pandémica não é normal e por isso exige medidas também elas atípicas. Não obstante o esforço dos vários dirigentes e instituições para controlar o contágio na nossa comunidade, tudo parece estar a ser infrutífero.

Porque não aplicar técnicas de Gestão a este problema?

Para isso temos de ir a montante do problema, a origem deste elevado nível de contágios. No Japão, na década de setenta, mais concretamente pelo Sr. Taiichi Ohno, fundador da Toyota, foi popularizada a teoria dos 5Whys, os 5 Porquês. Ao definir um problema, vamos respondendo aos porquês que correspondem à raiz desse mesmo problema, o que se chama também de “efeito indesejado”. A cada pergunta, recebemos uma resposta que leva à próxima pergunta.

Podemos aplicar esta técnica em vários contextos. A partir dessa identificação torna-se mais fácil definir acções que possam atacar as reais causas do problema, que podem ser várias. No limite, se não tivermos respostas concretas, temos pistas do que tem de ser resolvido. Definir o foco para o que é correcto, portanto. A eficácia é tremenda.

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Vamos testar.

1º Porquê – Porque há picos de contágio?

R: Os jovens são o “trigger” da maioria dos surtos. Agora, com a retoma das escolas, e no verão, com a praia e as férias. Há contágios na rua e depois levam para casa o vírus.

2º Porquê – Porquê eles, os jovens?

R: Convivem muito próximos, sem máscaras e o contágio é super-rápido.

3º Porquê – Porque se mantêm muito próximos, mesmo havendo tantos alertas?

R: Existe um “sentimento” de imunidade e acham que é uma doença de “velhos”. Interagem à porta das escolas em grupos, nos cafés, no desporto, em casa uns dos outros, etc.  Chegam a dizer que “não tens cara de ter vírus”.  Já ouvi, juro!

4º Porquê – Porque têm esse sentimento?

R: Porque não estão envolvidos emocionalmente nesta causa de toda a comunidade.

5º Porquê – E porque não estão envolvidos?

R: Porque o vírus não afectou (ainda) ninguém que conheçam, a sério, e, por isso, não valorizam o problema, nem se assumem como parte da solução. Reagem apenas por ser regra. Não pelo seu livre arbítrio, nem sendo pró-activos nesta questão.

Voilá! É nisto que temos de trabalhar, todos! Conquistar a atenção da malta nova.

Ajuda pensar, também, em temas avulsos como:

  • Como se conseguiu que os jovens valorizassem tanto o impacto das suas acções no meio-ambiente ou no cuidar da vida animal?
  • Porque seguem eles imensos influencers no seu processo de tomada de decisão e formulação de opinião?

Não temos de gerar alarmismo. Isso vai gerar outras doenças, as tais tratadas pelo DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais). Há que gerar uma tomada de consciência. Não impor regras, regras, regras. Porque cada regra é um desafio à capacidade dos jovens para contorná-la. Acaba por ser excitante.

A solução? Fazer um grupo de trabalho com marketeers, psicólogos, influenciadores e educadores.  Sociólogos também podem ajudar muito.

No final, criar uma missão nacional, um plano estratégico, como queiram chamar, com várias individualidades e instituições a patrocinar o projecto.

Sejamos sérios. Chegou o momento dos burocratas, legisladores, técnicos de laboratórios ou virologistas recuarem um pouco por favor. Com todo o respeito. Isto não vai lá com explanações técnicas, com um jargão de cientista ou com coimas. Isto tem de ser com apóstolos. E só assim vai ser cool e trendy cumprir. E vai resultar! Eles irão controlar-se uns aos outros.

Um vídeo do Cristiano Ronaldo vale por cem discursos e conferências de imprensa de um tipo de gravata démodé, que trabalha no final da rua de S. Bento.

Com isto, não estou a deixar de relevar o esforço dos nossos dirigentes políticos. Estou, sim, a constatar que dialogar com jovens não se faz desta forma. Não é reprimindo. Há que reinventar a roda, porque estou perfeitamente convicto que o caminho é outro e não o que está a ser seguido.

Até porque, no fim, vamos acabar por perceber que apesar da vacinação contra a gripe, ela volta sempre todos os anos. Qual é o principal papel do Governo, então? O foco não será obrigar a usar apps ou EPIs. Muito pelo contrário, tem de haver um “back to basics”. O papel do Governo é, sobretudo, criar condições para reforçar o sistema imunológico de quem mais precisa, a única coisa que pode fazer realmente a diferença. Cuidando, tratando, consultando e dando afectos a quem mais precisa. A mensagem, deixem-na com marketeers e psicólogos.