Há menos de três dias, foi aprovada pelos deputados da Assembleia da República a utilização obrigatória da máscara na via pública. Esta medida foi tomada na sequência do aumento de número de casos em Portugal. Há exceções na sua utilização, nomeadamente em crianças com menos de 10 anos, quando há distanciamento social e se por razões médicas não é aconselhada o seu uso.

Desde que esta medida foi aprovada, apareceram vozes de vários quadrantes da sociedade, incluindo alguns médicos e até um ex-candidato a Presidente de República, que se manifestaram contra a obrigatoriedade na sua utilização. Os argumentos basearam-se praticamente em dois pontos: na ausência de estudos científicos que provam a sua eficácia e no beliscar da nossa liberdade individual de escolha.

De referir, que a coima que foi aprovada no caso de não cumprimento da lei vai de 100 a 500 euros.

No momento em que qualquer lei entra em vigor, é de supor que as pessoas tenham de a cumprir, mesmo que possam ter argumentos contrários ao que foi decidido.

Não devemos esquecer que estamos todos a passar um período negro na história da humanidade, com milhões de pessoas infetadas e muitos infelizmente já mortos, deixando milhares de familiares órfãos dos seus entes queridos.

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Independentemente de divergências científicas ou políticas, o que precisamos neste momento é que haja solidariedade entre todos os portugueses.

Estamos todos exaustos, física e psicologicamente, desde os profissionais de saúde que estão na linha de frente, até ao cidadão comum, que ficou desempregado e que viu a a sua vida pessoal afetada, tanto economica como socialmente.

O que vemos nas ruas após a implementação da lei? Todas as pessoas com máscara? Não!

A maior parte dos cidadãos anda nas ruas sem máscara, precisamente porque a lei foi pouca audaciosa ao colocar esta frase: “Se houver distanciamento, não é obrigatório o seu uso.”

E o que acontece nestas decisões? As pessoas andam com a máscara na mão, no queixo, no cotovelo. Estes são os locais preferidos! São, pelo menos, os mais visíveis.

Todos nós já fomos informados quão importante é a lavagem das mãos pelo risco de propagação, não só do coronavírus, mas também de outros agentes infeciosos.

Ao adotarmos esta política de exceções, estamos a contribuir decisivamente para o aparecimento de mais casos. As máscaras usadas corretamente em locais públicos, têm sido a melhor ferramenta contra a propagação da Covid-19 . Que não haja dúvidas sobre este tipo de medida. A própria OMS reconhece que a máscara é o melhor instrumento para evitar milhares de mortos nos próximos meses.

Há muito tempo que tenho defendido a utilização de máscara em todos os locais. O Governo anunciou a possibilidade de utilizar a máscara na via pública, cerca de nove meses depois dos asiáticos terem começado a utilizá-la. E nunca me passou pela cabeça que esta lei tivesse esta exceção em relação ao distanciamento.

Quando tomamos uma decisão difícil, temos de ponderar todas as consequências. Era preferível não ter incluído este item porque o que vi, em 48 horas, foi mau de mais. E estamos apenas no princípio…

Era uma excelente oportunidade para finalmente fazermos o que é correto. Os países e regiões que seguiram esta medida tiveram resultados positivos. Mas assim, com estas medidas dúbias, com exceções e mais exceções, deixam-nos com muitas interrogações no ar. O nosso futuro está em perigo, porque quem manda não consegue passar a mensagem para o outro lado de uma forma convincente.

Foram tantas as decisões controversas nos últimos tempos, que os cidadãos já não sabem em quem acreditar e, acima de tudo, perceber o que está certo ou errado. As decisões têm de ser tomadas com coragem, sem ambiguidades. Caso contrário, ao pensarmos que estamos a dar um passo em frente, o que irá acontecer será precisamente o contrário. Vamos cada vez mais para trás até cairmos no precipício.