1, 2, 3, 4… 5!

Na azáfama dos dias, somos constantemente inundados com conceitos de marketing, de inovação, que nos parecem exagerados, esforçados e sem sentido. Saturados de termos como Indústria 4.0, Saúde 4.0, Sociedade 4.0, pensamos, óbvio, a próxima só pode ser 5.0! Qualquer criança, em idade pré-escolar, o sabe.

Importa, por isso, entrar em profundidade nos temas. Compreender a História, os pressupostos e as tendências é fundamental para entender a realidade e, assim, vislumbrar o futuro. Quando falamos em Revolução Industrial, imediatamente associamos a um evento, passado, bem definido no tempo e no espaço, bem lá no fundo da memória dos anos do secundário. Mas o tempo é contínuo. As revoluções evoluem.

Ao longo da História temos assistido a várias revoluções industriais — momentos disruptivos, alavancados pela evolução do conhecimento, que permitiram que a sociedade crescesse e prosperasse. A primeira revolução surgiu com a mecanização industrial e o desenvolvimento dos motores a vapor — a chamada Indústria 1.0. A esta, seguiu-se a eletrificação, que permitiu a produção em massa (2.0) e, logo depois, a automação (3.0), marcada pelo desenvolvimento da eletrónica, robótica e telecomunicações. No início do milénio, motivada pela internet, pelo Big Data e pela inteligência artificial, dá-se a digitalização (4.0) — coluna dorsal da sociedade atual.

Contudo, e após décadas de um avassalador desenvolvimento tecnológico, questionamo-nos — onde estamos nós? O que fizemos? Como chegamos a um ponto, onde mesmo suportados em tanto conhecimento e tecnologia, não conseguimos fazer face a uma sociedade assimétrica, cada vez mais polarizada? E o futuro? Que respostas podemos, enquanto sociedade, esperar no futuro? Atrevo-me a responder que a transformação já começou, são já percetíveis os sinais de disrupção.

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A palavra de ordem desta nova revolução será, sem sombra de dúvidas, a “Personalização”. Aguarda-nos uma sociedade capaz de aceitar a individualidade de cada um de nós e de compreender as diferentes necessidades que temos, sem desvalorizar os nossos direitos e deveres enquanto seres humanos.  Uma sociedade sustentável, inclusiva e equitativa, onde cada um tem espaço para as suas necessidades e particularidades. O desafio que se segue, e que será transversal a todos os setores, está em massificar a customização sem comprometer a sustentabilidade do planeta. É o regresso às origens, diria. E isso só se conseguirá, é claro, com recurso à tecnologia.

A Medicina será um dos setores que mais irá tirar partido da personalização que acompanha esta revolução social. Afinal, se não somos todos iguais, porque haveríamos de ser pautados pelos mesmos cuidados médicos? Porém, para avançar no debate sobre a individualização dos cuidados médicos é necessário considerar alguns fatores — é preciso perceber o conceito, entender os critérios dos métodos utilizados, bem como a importância de olharmos para cada um de nós como pessoas com diferentes necessidades. É evidente que tal transformação implica barreiras e constrangimentos — o conhecimento precisa de ser aprimorado e muito bem comunicado e existe ainda um risco real de sobrecarregar o sistema de saúde. Mas é nesta direção que caminhamos.

O estudo do DNA surge como uma potencial alternativa de terapêutica individualizada. Não estivéssemos nós a falar de um regresso às origens — afinal, o DNA está na origem de cada um de nós. Os cuidados de saúde baseados nos dados de DNA trazem inúmeros benefícios: permitem atuar na prevenção, com um custo mais baixo e com uma ação clínica atempada e potencialmente eficaz. O futuro da Medicina 5.0 virá passar pelo diagnóstico molecular, terapias celulares e terapias genéticas. Aguarda-nos uma mudança de paradigma na saúde — o de passar a prevenir doenças, ao invés de as tratar. Atuar na prevenção, com um custo mais baixo e com uma ação clínica atempada e potencialmente eficaz. Será também uma mudança no paradigma na saúde: possuir o conhecimento sobre potenciais alterações patogénicas, i.e. responsáveis pelo aparecimento de doença, será um valioso elemento na tomada da decisão clínica.

É neste caminho, em direção ao futuro, que a Medicina 5.0 nos permite voltar a focar nas pessoas. Suportados pelas tecnologias emergentes, podemos ambicionar o desenho de planos de monitorização de saúde e de terapêuticas individualizadas. A alteração de paradigma é já uma realidade: veja-se os inúmeros casos de luta dos pacientes pelo acesso a medicamentos inovadores. A aposta na antecipação e no diagnóstico precoce é não só necessária, como urgente, pois vai seguramente melhorar a qualidade de vida de muitos e pode até mesmo salvar vidas.