Desde finais dos anos 90 já foram constituídos diversos grupos de trabalho com o propósito de rever a rede nacional de urgências e emergências. Ao longo da minha vida profissional tenho estudado o problema da área da urgência e emergência e integrei um dos primeiros destes grupos pela especialidade de pediatria.

Todos os grupos concluíram que havia necessidade de reformular as urgências, hierarquizando o atendimento urgente e emergente. Todavia, nunca houve suficiente vontade política para avançar com uma verdadeira reforma. O peso das autarquias sempre falou mais alto, pois as pessoas que votam gostam de ter hospitais ao virar da esquina.

Ao longo dos anos 2000 a abertura de hospitais privados e a insatisfação dos médicos no SNS originou a saída progressiva de médicos de hospitais públicos para os grupos privados. Assim, no presente, existem urgências hospitalares públicas e privadas em concorrência, com recursos humanos muitas vezes repartidos.

De uma forma geral, os ratios de médicos versus doentes são determinados pelas características populacionais de cada país. Em Portugal, há certamente má distribuição de médicos, nomeadamente na área da medicina geral e familiar, e há questões relativas à idade dos médicos em diversas especialidades, mas, na minha opinião, no imediato, há sobretudo urgências a mais.

Talvez o actual caos que se vive nas urgências obrigue finalmente à tão necessária reforma hospitalar.

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