Segundo a regra matemática dos sinais, quando encontramos dois sinais negativos o resultado é um sinal positivo e, como diz o título destas linhas, um sinal menos com outro sinal menos origina um resultado positivo. Desengane-se o leitor, que nestas linhas não vamos elaborar um conjunto de conceitos matemáticos, ou promover uma bela preleção sobre verdades matemáticas, mais ou menos absolutas, desde logo por pura incapacidade do Autor cujos sofríveis conhecimentos matemáticos viram o seu apogeu surgir no 9.º ano de escolaridade.

Servem as presentes linhas para comentar uma entrevista do Ministro do Ambiente e Ação Climática em que dizia que: “é importante explicar que vamos ter que nos habituar a viver com menos água, todos, as atividades agroindustriais também, os setores económicos, e temos todos que olhar para aquilo que são as oportunidades que temos”. Acrescenta, ainda, o Ministro que Portugal tem feito bastante para a preservação dos ecossistemas, evocando o tratamento de águas residuais tratadas que passaram de 15% em 1990, para 99% na atualidade.

O Ministro tem razão, é necessário que nos habituemos a utilizar – e reutilizar, acrescento eu – melhor os nossos recursos hídricos. Não são alheios ao sucesso do desenvolvimento do tratamento de águas residuais os vários quadros comunitários de apoio ao desenvolvimento nem, tão-pouco. a extensa regulação produzida pela União Europeia ao longo de décadas de integração, mas não podemos olvidar que se o tratamento de águas residuais tem sido um sucesso, a reutilização dessas águas tem conhecido tímidos avanços.

Podíamos enumerar as vantagens do recurso a estas águas, ou podíamos ainda dizer que um país que, mercê das alterações climáticas, vai conhecer períodos de mais prolongada e mais intensa seca, não se pode dar ao luxo de regar campos de golfe com água boa – na maioria dos casos de excecional qualidade – para consumo humano; ou, ainda, como nesses locais existe uma maior facilidade de acesso a água salgada, devendo o desenvolvimento sustentável conduzir a que se apostem em mecanismos de dessalinização que permitam o respeito pelo meio-ambiente e a conciliação entre os ativos turísticos e o meio-ambiente. O desenvolvimento económico tem de passar a ser, também ele, um desenvolvimento verde que assegure o futuro e não comprometa o presente.

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Por último, também foi notícia a entrada em consulta pública de uma recomendação da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos que visa a implementação da tarifa social para um maior equilíbrio entre o valor social da água e o seu valor económico, permitindo assim que se protejam os beneficiários em condições de maior vulnerabilidade, garantindo uma maior harmonização tarifaria que permita uma maior recuperação de custos dos serviços públicos de águas e, assim, um maior investimento em rede de distribuição que regista perdas, em média, de 30% de água produzida e desperdiçada.

A arquitetura das cidades deve ser repensada para a poupança de um recurso finito, mas se a arquitetura e a forma como pensámos as cidades ao longo de décadas não é amiga do uso eficiente da água, não podemos deixar de exigir que a nível nacional se combata ferozmente o nível de perdas de água. Como já escrevi, vão demorar décadas a recuperar os recursos que temos perdido e, sem esse investimento, dificilmente conseguiremos garantir a sustentabilidade futura dos serviços.

Na matemática, na água ou na vida, menos desperdício, menos perdas da rede de distribuição, só poderão conduzir a mais eficiência, mais poupança, mais reutilização, mais sustentabilidade dos serviços públicos, mais água e maior resiliência às alterações climáticas. O caminho é longo, mas este é o momento de não falharmos às gerações futuras.