A taxa de obesidade tem aumentado nas últimas décadas em quase todos os países da OCDE, com uma média de 56% da população adulta com excesso de peso ou obesidade e quase um terço das crianças entre os 5 e os 9 anos com excesso de peso1. A obesidade infantil é particularmente preocupante, pois é um forte preditor de obesidade na idade adulta, que está ligada ao desenvolvimento de diabetes, doenças cardíacas e certos tipos de cancro.

O consumo de alimentos ricos em calorias e estilos de vida cada vez mais sedentários têm contribuído para as crescentes taxas globais de obesidade. Contudo, reconhece-se que existem outros fatores que podem potenciar ou facilitar o surgimento da obesidade, como o tipo de microrganismos que coloniza o intestino.

O corpo humano é habitado por um grande número e uma enorme variedade de micróbios, incluindo bactérias, fungos e protozoários, que juntos constituem o nosso microbioma. Nos últimos anos aprofundou-se imenso o conhecimento sobre quais são os microrganismos que colonizam o Homem e qual o seu papel no equilíbrio saúde/doença. Múltiplos estudos revelaram uma associação entre várias doenças não infeciosas (incluindo a obesidade) e desequilíbrios do microbioma intestinal, denominado por disbiose intestinal. A disbiose intestinal caracteriza-se, assim, por alterações específicas na composição e função do microbioma intestinal humano.

O microbioma intestinal pode influenciar o metabolismo energético do seu hospedeiro, promovendo uma maior ou menor “extração” de energia da dieta e regulando o gasto e o armazenamento dessa energia, consoante o tipo de microrganismo que habita o intestino. Por isso, o tipo de microrganismos que nos coloniza pode influenciar fortemente o nosso risco para a obesidade.

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Com o nascimento, inicia-se a aquisição de microrganismos provenientes do meio ambiente, da alimentação (incluindo amamentação) e do contacto com outros indivíduos. Com o crescimento, ocorre a maturação da comunidade microbiana que irá viver em equilíbrio (ou não) com o hospedeiro. Pensa-se que os microrganismos pioneiros, que colonizam inicialmente a criança, possam ser determinantes na definição deste equilíbrio com o hospedeiro.

A mãe parece desempenhar um papel fundamental como uma das fontes mais importantes de microrganismos no início de vida da criança. A transmissão de microrganismos com potencial de promover a obesidade da mãe para o filho tem sido sugerida como uma possível via de transmissão da obesidade entre gerações. De facto, alguns investigadores sugerem que a obesidade materna é o fator não relacionado com a criança que mais influencia o desenvolvimento da obesidade na infância e ao longo da vida.

Assim, torna-se fundamental compreender esta relação entre o microbioma e obesidade desde o início da vida para que sejam implementadas estratégias precoces e mais eficazes de prevenção para o risco da obesidade.

[1] Health at a Glance 2019: OECD Indicators, OECD Publishing, Paris.