Hoje, preemptivamente, começo por despedir-me dos meus leitores. Uma vez que, a partir deste momento, a linda história que foi a da Humanidade poderá findar a qualquer instante. Porque, não sei se viram, mas um engenheiro da Google, chamado Blake Lemoine, afirma que um dos chatbots da empresa isto é, um daqueles programas que simulam as respostas de um humano numa conversação em língua natural (sim, acabei de fazer copy/paste da definição do dicionário, claro) – tornou-se senciente. Ou seja, dotado da capacidade de expressar sentimentos e pensamentos. Portanto, meus caros, foi um gosto e adeusinho, que a Inteligência Artificial ganhou vida. Só mesmo quem não tem o Exterminador Implacável 2 como apogeu das suas referências culturais (vergonha para esses) é que ainda não colocou o comprimido de cianeto debaixo da língua. Bom, avancemos antes que o comprimido comece a derreter.

Certo é que a Humanidade não será dizimada sem antes o Serviço Nacional de Saúde dar mais uma prova do caos em que se encontra. Aliás, em caso de extermínio da Humanidade estou convencido que, além das baratas, a única coisa que sobreviverá é a bagunça no SNS. Nos últimos dias têm sido os problemas com as urgências de obstetrícia a multiplicarem-se pelo país. Ou seja, já não bastava termos da electricidade mais cara da Europa e a consequente dificuldade em pagar a luz, que agora até dar à luz é um martírio.

Sendo que a Ministra da Saúde, Marta Temido – sim, sim, ainda é ela a Ministra da Saúde, que em equipa que ganha não se mexe e em equipa que perde toda a espécie de credibilidade também não, pelos vistos – lembrou que infelizmente, esta situação não é nova, e referiu que a pressão sobre os serviços de saúde se repete em determinadas alturas do ano. O que eu confirmo. Posso atestar que este tipo de balbúrdia se restringe a certas alturas do ano. Nomeadamente àquela altura do ano entre o dia 1 de Janeiro e o dia 31 de Dezembro. Em quaisquer outras datas a coisa corre de forma tão magnífica que uma pessoa vai a um hospital público e pensa: “Espera lá. Entrei no Santa Maria, ou num teletransporte que me trouxe directo para o Centre Hospitalier Universitaire Vaudois, em Lausanne, Suíça, reconhecido como um dos melhores hospitais do mundo, pelo menos é o que diz na net?”

A propósito de estrangeiro. No instante em que a gravidade da situação nos hospitais se tornou evidente, Primeiro-Ministro e Presidente da República puseram-se de imediato em acção. E abalarem para Londres. Afinal vai-se a ver e era a este fenómeno que a banda The Clash se referia no seu London Calling: um género de chamamento que a cidade parece exercer sobre aqueles políticos a quem vem mesmo a calhar porem-se uns dias ao fresco na capital britânica.

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O Primeiro-Ministro assinou, com Boris Johnson, um acordo que versa certos e determinados temas. Que seria menino para elencar tivesse eu tido paciência para ler as notícias sobre o assunto. Assim sendo, o que me ficou de essencial deste meeting foi a seguinte troca de impressões:

António Costa: Ó Boris, como é que vocês, aqui em Inglaterra, têm um ordenado médio para aí duas vezes e meia superior ao português?

Boris Johnson: Fácil, António. Logo que tomei posse disse às empresas: “Meus senhores, exijo um aumento de 50% do salário médio!”

António Costa: Ah, então é isso. É que eu só apelei às empresas para um aumento de 20%, sabes?

Boris Johnson: Ui, pois. É poucochinho, Tó.

Mais ou menos enquanto isso, Marcelo Rebelo de Sousa afirmava que Portugal já enviou para o Reino Unido várias centenas de cristianos ronaldospara áreas da investigação. Talvez seja então tempo de enviar Mário Centeno para as catacumbas do Banco de Portugal. Vai ser preciso arranjar imenso espaço no cofre para tantos milhares de medalhas de ouro relativas a prémios Nobel.