Estamos todos de quarentena, cansados e não é nada fácil liderar neste momento tão complicado. Mas alguém tem que o fazer e é, precisamente, nestes momentos mais difíceis em que vemos o calibre, os valores e aquilo de que são feitos. Nós temos que nos manter unidos e não ceder a alarmismos e negativismos, porque existem boas notícias! Existem curas milagrosas, previsões catastróficas falhadas e mais boas notícias virão. Quanto mais a sério levarmos esta quarentena mais rápido e menos estragos esta nos fará, sendo que já foram muitos, a começar pelas vítimas mortais que leva.

Venho escrever este texto, talvez mais do coração do que da razão, mas impressiona-me a cobardia a que tenho assistido de certos atores políticos. O meu intuito não é incendiar, vou tentar não  personalizar demasiado a não ser alguns incontornáveis. O meu  objetivo é denunciar atitudes que não me parecem dignas da posição de responsabilidade que têm. É obviamente mais fácil criticar, mas também se não o fizermos, nada vai mudar e o que se passa com a minha irmã na Austrália e todo o grupo de portugueses tem de ser levantado para que não se repita com outros daqui para a frente.

Estamos num país em que temos um Primeiro Ministro que vem fazer um comunicado para todas as televisões com um discurso a dizer que nos vai defender e finalmente a assumir o que estamos a passar sem assumir medidas concretas. Anuncia pacotes de ajudas para empresas com contrapartidas quase inalcançáveis e pior ainda nem se quer estão aprovados, ou seja chegarão tarde e a más horas, se é que chegarão, sendo que já sabem que quem sofre são as famílias… Anuncia que vai atrasar pagamentos de impostos, é tão nosso amigo que nos deixa endividados!

Ainda que me custe muito dar o exemplo de uma pessoa que pôs a economia à frente da vida humana, em Inglaterra, perdoaram de facto impostos e o Estado vai chegar-se à frente com 80% de muitos salários e não são medidas para daqui a bocado, são para agora! Espero, sinceramente, que a irresponsabilidade de Boris Johnson não faça UK chegar ao caos Italiano, é algo nem ao pior inimigo se deseja.

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Estamos num país em que a diretora da DGS há dias dizia que esta epidemia não era muito contagiosa ou há uns dias atrás se mostrava ofendida com a escola das netas que fechava prematuramente sem mandato da DGS. Temos um governo que, infelizmente, parece andar a reboque dos acontecimentos e isso deu azo a que em plena crise italiana ainda estávamos nós em açambarques de supermercados, com praias cheias e o Cais do Sodré sobre lotado, será que não podemos aprender com os outros? Aquilo que se pede são medidas extraordinárias para uma situação extraordinária.

O Dr. António Costa na primeira pergunta sobre os nossos portugueses lá fora responde, sem papas na língua, que o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) fará tudo para repatriar quem quiser voltar. Nós pegamos nesta informação e tentamos reunir um grupo de portugueses na Austrália que queiram regressar de forma responsável. Em apenas dois dias chega às 75 pessoas. Um grupo heterogéneo, uns estudantes, outros viajantes, outros em lua de mel e de todas as idades. Aqui temos de nos unir, não existem portugueses de primeira nem de segunda.

Uma vez que nem o nosso próprio governo foi capaz de prever o quão grave esta situação iria ficar até meio de Março, não faz sentido agora descartarem-se de portugueses viajantes invocando a sua irresponsabilidade em ter ido. Se querem voltar têm de ter esse direito. Eles não pediam um voo especial, queriam a garantia de que o voo que apanhassem na Austrália chegaria a Portugal. Num momento em que muitos já têm voos cancelados e em que já tentaram marcar e remarcar o desespero já é grande. Juntou-se um grupo responsável que queria voltar com um selo de segurança do nosso Estado, chegar sem prejudicar ninguém e fazer quarentena. Todos dispostos a pagar o seu bilhete. Numa altura em que temos tantas companhias com aviões parados à procura de oportunidades e com um primeiro ministro a dizer que planeiam ajudar quem está preso em países, a esperança nasceu.

Mas assim como a esperança nasceu, foi morta e enterrada pelo próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) e pelo embaixador local ao transmitirem via email e telefone a vários membros deste grupo de que o melhor era apanharem voos comerciais e o mais rapidamente possível. Numa altura em que há muitas destas pessoas em situações pré-precárias e em que praticamente nenhum voo ou rota comercial está garantido. Como disse é nos momentos difíceis que as pessoas se definem e quando havia um grupo de pessoas desesperadas a tentar regressar mas não de qualquer forma nem a qualquer custo para o seu país natal, vem o próprio governo e “lava as mãos” do assunto. Diz apenas: “olhem arranjem-se, vão cada um por si e tentem lá chegar que nós não podemos fazer nada”.

Na altura em que pagamos a maior fatia de impostos da nossa história, o nosso MNE e embaixador local nem se dignaram a tentar apelar por este grupo, a tentar agregar e defender os interesses de portugueses no estrangeiro. Custa-me ver esta cobardia, custa-me ver que sou liderado por pessoas que no momento em que podem de facto exercer a sua influência e tentar agregar os interesses deste grupo junto de alguma companhia aérea, decidem “lavar as mãos” e aproveitar-se de um grupo pequeno, indefeso e desesperado de pessoas numa situação precária. Espero que este grupo seja o exemplo no sentido de alertar este governo e outros embaixadores para acabar com este tipo de atitude. Espero sinceramente que todos os que compraram bilhete de regresso depois dos pareceres destes irresponsáveis com responsabilidade consigam todos voltar em segurança para suas casas.

Escrevo este texto para garantir que esta história não fica esquecida, para garantir que todos os que precisarem de ajuda de hoje em diante possam tê-la. Para que os embaixadores e o MNE façam o trabalho para o qual todos pagamos os nossos impostos e sirvam os portugueses cá e lá fora em qualquer parte do mundo. Que pensem duas ou mais vezes antes de “lavarem as mãos” sobre qualquer assunto desta génese. Porque somos um povo, e temos de estar mais unidos que nunca. Estou cansado de políticos que se armam em falsos heróis com discursos bonitos, mas que na prática é isto que se vê. Os verdadeiros heróis são os médicos, os enfermeiros, todo o pessoal auxiliar nos hospitais, os polícias, os bombeiros, o exército, a logística e o retalho e peço desculpa de quem me tenha esquecido. Estes são quem está verdadeiramente e com a vida em risco a defender-nos deste perigo. E esses sim, merecem um grande agradecimento da nossa parte.

Portugueses não é altura para dividir, mas para unir. Não é o momento de apontar o dedo mas de estender a mão. Conto com o espírito solidário, compreensivo e empático de todos. Eu acredito que todos lavamos as mãos como prevenção do vírus, mas fico na dúvida, há alguns que estão a lavar as mãos de quê?