Habituei-me a passar muitas horas em salas de espera de consultórios e nos bancos de urgência dos hospitais e, por isso, tenho estratégias para conseguir ficar 6 ou 7 horas seguidas ao lado de quem amo e sofre, sem perder a esperança de chegar a ver melhoras. Nos que são meus, naturalmente, mas também em outros pais e filhos, avós ou netos e pessoas absoluta e desesperadamente sós que ali chegam e esperam ao nosso lado para também serem atendidas e tratadas. Fiz muitos anos de voluntariado de cabeceira e aprendi a estar ao lado dos que padecem, sem horas nem pressas. Foi com todos estes doentes que percebi a extensão, a profundidade e as alturas da palavra ‘paciente’.
Nos últimos anos, a recorrência com que vou e volto às urgências é tal, que sinceramente me sinto em casa. Especialmente quando vou a São José, o hospital público onde trabalham grandes médicos de todas as especialidades e onde cada um dos meus pais foi devidamente tratado sempre que foi necessário. O meu pai morreu em São José, onde entrou em morte cerebral, mas a quem foi possível fazer uma derradeira cirurgia para ainda doar o fígado e, assim, salvar uma vida. Nunca terei palavras à altura da minha gratidão por tanto bem recebido neste e noutros hospitais, onde naturalmente também houve motivos de queixa pontuais e alguns momentos de impaciência que, felizmente, ficaram sanados.
Voltei a passar 6h seguidas nos serviços de urgência há um par de dias, mas desta vez o tempo que lá estive com a minha mãe foi todo passado do lado de lá das cortinas e portas de vidro porque fomos rapidamente encaminhadas para os médicos e depois guiadas pelas salas onde estão distribuídos os meios de diagnóstico. Dentro do azar, foi uma sorte. Digo azar porque ninguém vai parar à urgência do hospital sem ser em grande sofrimento e angústia.
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