Os tempos em que vivemos são férteis para a disseminação de todo o tipo de radicalismos, de esquerda e de direita. A estagnação económica, o aumento das taxas de juro e da inflação, que levarão, inevitavelmente, ao alastramento da pobreza, mas também a falência dos serviços públicos, como saúde, educação e justiça, e a degradação do ambiente político e as fragilidades das instituições já estão a ser aproveitados por todo o tipo de populistas para atraírem a si os descontentes, que cada vez serão mais. No contexto português, estes radicais-populistas concentram-se sobretudo no Chega, Bloco de Esquerda e Partido Comunista, mas podemos encontrá-los cada vez em maior número no Partido Socialista, sobretudo depois de António Costa se tornar líder do partido.

Em tempo de crescimento da pobreza o mais fácil é apontar aos ricos, como fazem o BE e o PCP, ou aos imigrantes, como faz o Chega; no entanto o raciocínio é o mesmo para estes partidos, tanto uns como outros se estão a aproveitar da classe média trabalhadora, tirando vantagens indevidas do “sistema”. Ainda na pandemia, os populistas de esquerda vociferavam contra os despedimentos em empresas que dão lucro. Como é natural, quem propõe medidas deste género nunca geriu mais que as suas finanças domésticas, nenhum empresário digno desse nome tem especial prazer em despedir funcionários, quando os contratou foi porque acreditava que a empresa precisava deles para se manter ou crescer; infelizmente a realidade por vezes muda, e para salvar o negócio e postos de trabalho é preciso redimensionar e fazer despedimentos, sendo que, para qualquer empresário sério, despedir é o fim da linha, quando tudo o resto já foi tentado e falhou. Os populistas de esquerda preferem uma empresa falida e fechada a uma empresa mais pequena, com lucro e a funcionar, esta é a realidade.

Os populistas de direita focam as suas atenções nos imigrantes. O argumentário centra-se no facto de que os imigrantes vêm para Portugal usufruir de prestações sociais, por exemplo do Rendimento Social de Inserção, vivendo à custa dos portugueses. Isto é falso, a esmagadora maioria dos beneficiários de RSI nasceram em Portugal e apenas uma pequena percentagem é estrangeira. Mais, os imigrantes em Portugal são contribuintes líquidos do sistema de segurança social, contribuindo com os seus impostos para o Estado Social no país.

Perante este cenário de radicalização da vida pública e política, o que se pede aos moderados é firmeza e intransigência na defesa dos valores da liberdade, propriedade e personalidade. Moderação não pode ser sinónimo de fraqueza ou complacência com o politicamente correcto, deve ser aliás a sua antítese, o politicamente correcto é hoje o melhor exemplo de radicalismo e intolerância. É por esta razão que qualquer moderado se arrepia a ouvir Carlos Moedas dizer que vai falar com o vereador da cultura quando confrontado com a possibilidade de homenagear Vasco Gonçalves; perante semelhante proposta um moderado com coragem só pode ter uma resposta, não. Vasco Gonçalves representa tudo o que alguém que acredita na democracia liberal rejeita, radicalismo e intolerância.

Os moderados têm hoje a enorme responsabilidade de liderar pelo exemplo e impedir o crescimento dos vendedores de ilusões, mas para o fazerem não podem abdicar da sua visão, têm que ter coragem de a implementar e não podem ceder ao facilitismo. Um moderado não pode deixar de defender que as casas de banho das escolas só podem ser para rapazes e raparigas e não mistas, um moderado não pode deixar de defender penas mais pesadas contra quem agride profissionais no exercício da sua profissão como polícias, professores, bombeiros, médicos ou enfermeiros, seja qual for a etnia ou nacionalidade do agressor, um moderado não pode deixar de apontar o dedo à justiça de cada vez que um homem com passado violento agride a companheira e é sistematicamente posto em liberdade, muitas vezes acabando mesmo por matá-la e um moderado não pode deixar de dizer que é uma vergonha que casos de corrupção, que lesam o Estado em milhões de euros, se arrastem na justiça, não existindo uma sentença em tempo útil.

O tempo que vivemos é propício ao radicalismo, mas o futuro será dos moderados com coragem.

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