Dizer que em Lisboa circulam carros a mais deve ser das poucas afirmações que não provocam polémica a propósito  da mobilidade na capital. Entre os residentes e os que trabalham em Lisboa, calcula-se que mais de meio milhão de automóveis circulem na cidade diariamente, sendo provável que existam mais carros que habitantes na cidade.

Diminuir o número de carros que circula em Lisboa deve ser um ponto prioritário na governação da cidade. Mas, como em qualquer problema político, existem duas formas de tentar resolver a questão.

A primeira é a forma ideológica, impondo a teoria à realidade. E, caso a realidade resista, continuar a insistir,  usando se preciso o poder para forçar a realidade a adaptar-se à teoria. Em geral o resultado costuma ser o despotismo, que procura sobrepor a ideia ao facto.

Um bom exemplo deste tentar resolver o problema de forma ideológica é a governação de Fernando Medina. Para o actual presidente da Câmara de Lisboa, o problema dos automóveis resolve-se simplesmente infernizando a vida dos condutores. Diminuiu o estacionamento e aumentou a rede de parquímetros, assim como os seus preços. Limitou o acesso de automóveis a certas partes da cidade. Diminuiu o número de faixas de várias artérias e semeou um sem fim de ciclovias.

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Tudo isto sem ter criado qualquer alternativa ao uso do carro. Os autocarros continuam a ser poucos (ao fim-de-semana quase inexistentes), raramente cumprido horários. A rede de metropolitano não cresce, ao contrário dos tempos de espera. A rede ferroviária vive completamente desarticuladas dos restantes transportes, e com uma oferta muito abaixo da procura. Os famosos parques dissuasores são uma ilusão. Se somarmos a tudo isto o aumento dos preços do imobiliário na cidade, a fraca oferta de creches e infantários, a total ausência de qualquer tipo de transporte escolar, compreende-se porque razão, ao fim de sete anos de mandato, o número de carros em Lisboa não diminuiu, aumentaram apenas os engarrafamentos. A cegueira ideológica de Fernando Medina contra os carros serviu apenas para piorar os problemas associados ao excesso de carros.

A alternativa à ideologia é o realismo. Em vez de impor a teoria à realidade, partir da realidade para chegar ao objectivo. Ou seja, perceber que, se queremos diminuir a utilização do carro, temos que criar condições para que este não seja necessário.

Para isso é preciso melhorar os transportes públicos, criar condições para que as pessoas que trabalham em Lisboa possam viver perto dos seus empregos, criar nos bairros serviços, começando por escolas (sobretudo creches e infantários) que não obriguem a ter que levar os filhos de carro. Sobretudo, é preciso trabalhar com a sociedade para perceber o que é necessário fazer para diminuir a utilização do automóvel. E nesta visão cabem perfeitamente as ciclovias, que são uma alternativa ao automóvel, mas que tem que integrar um plano de mobilidade para a cidade, e não uma birra ideológica.

Um bom exemplo desta visão, de uma cidade construída com os seus habitantes, em diálogo com eles, é aquilo que Carlos Moedas tem vindo a propor. A cidade dos 15 minutos, ou seja, a cidade onde é possível fazer a sua vida próximo de casa. As assembleias de cidadãos, onde é possível escutar a opinião da população em geral sobre a cidade. Uma campanha eleitoral feita em diálogo com a cidade, com os seus habitantes e com as suas instituições.  A luta por uma visão equilibrada sobre as ciclovias, em vez da obsessão do actual executivo. Uma EMEL ao serviço dos lisboetas, e não a persegui-los. E a melhoria da rede de transportes públicos, incluindo a criação dos famosos (mas sempre por concretizar) parques dissuasores à entrada da cidade.

Só o realismo irá permitir diminuir realmente o número de automóveis em Lisboa, criando alternativas que tornem o carro a pior opção para se movimentar dentro da cidade. E isso só é possível indo ao encontro das necessidades da população.

Ao contrário do que se tem afirmado nesta campanha, quem defende cegamente o constrangimento ao uso do carro assim como a criação irracional de ciclovias não está a defender uma mobilidade sustentável. Pelo contrário, por cegueira ideológica, está a piorar o problema automóvel em Lisboa. Essa é a herança de Medina.

Quem de facto quiser contribuir para uma Lisboa com menos carros, tem uma alternativa realista, um candidato que se propõe trabalhar com a população e as várias realidade sociais para diminuir a dependência do automóvel. Essa é a proposta de Moedas.

Dia 26 é esta escolha, a visão ideológica de Fernando Medina, ou o realismo de Carlos Moedas. Quem deseja fazer grande afirmações moralistas sobre o carro já sabe em quem votar. Quem quiser realmente resolver o problema do excesso de carros também.