A possibilidade de o novo Presidente do Brasil desviar as suas atenções e prioridades das relações bilaterais com a China e a Rússia, bem como no âmbito dos BRICS, para os Estados Unidos está a deixar a Rússia e a China apreensivos.

Os dirigentes chinês e russo, Xi Jiping e Vladimir Putin respectivamente, deram os parabéns a Jair Bolsonaro após a sua eleição para o Palácio do Planalto, mas, através de órgãos de informação oficiais ou oficiosos, deixam escapar receios quanto às possíveis futuras mudanças na política externa brasileira.

Putin, na sua mensagem enviada ao vencedor, expressou a sua confiança no desenvolvimento de todo o leque de relações entre os dois países, assim como na cooperação construtiva, no âmbito das Nações Unidas, do G20, dos BRICS. O governo da China também se manifestou pelo aprofundamento das suas relações bilaterais e multilaterais, especialmente no que se refere ao BRICS.

Todavia, durante a sua campanha eleitoral, Balsonaro não escondeu que serão prioritárias as relações bilaterais com outros países, a intenção de reduzir os contactos no âmbito dos BRICS e do MERCOSUL, bem como a simpatia para com Donald Trump e a sua política.

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Ora, numa altura em que o Presidente norte-americano continua a sua política de desmontagem do actual sistema de relações internacionais com vista a manter e reforçar a hegemonia dos Estados Unidos, Bolsonaro poderá dar uma ajuda. Por exemplo, na neutralização da tentativa, levada a cabo pela China e a Rússia, de transformar os BRICS (organização que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul) num dos pólos de influência mundial.

Os governos de esquerda de Lula da Silva e de Dilma Rousseff apostaram sempre no reforço dessa organização de forma a transformá-la num sério contrapeso ao poderio norte-americano. Além disso, apoiavam, dentro da mesma linha e a pretexto do “combate ao imperialismo”, regimes como os de Maduro na Venezuela ou de Ortega na Nicarágua. Ora estes regimes ditatoriais de esquerda contam com a Rússia e a China entre os principais apoiantes.

Se Jair Bolsonaro cumprir as suas promessas eleitorais no campo da política externa, os BRICS arriscam-se a tornar-se em mais uma tentativa falhada de enfraquecimento da hegemonia norte-americana.

No que respeita às relações bilaterais, principalmente no que diz respeito à China, elas deverão pautar-se pelo pragmatismo. É verdade que, durante a campanha eleitoral, Bolsonaro fez declarações do tipo ” A China não está comprando no Brasil, a China está comprando o Brasil” ou “Vamos fazer negócios com os chineses — mas não vamos entregar nosso território a ninguém”. Todavia, ele também deverá ter presente que Pequim é o maior parceiro comercial do Brasil, que absorve cerca de 25% das exportações brasileiras e um dos maiores investidores estrangeiros, sobretudo na agricultura, energia e mineração.

Por muito que Bolsonaro se queira virar para os Estados Unidos, terá de ter em conta a realidade, pois o mercado norte-americano será incapaz de substituir o chinês.

No que respeita às relações bilaterais com a Rússia, cito o analista político russo Gleb Kuznetzov: “A vitória de Bolsonaro é uma má notícia para a Rússia enquanto importante fornecedor dos mercados mundiais e membro dos BRICS.  Ele não pretende ser um centro de força alternativo aos Estados Unidos”.

Além disso, Kuznetsov receia que, não tendo grandes preocupações ambientais, Balsonaro  vá aumentar a extracção e exportação de petróleo e outros minérios: “tendo em conta que, no que respeita a minérios, o Brasil exporta o mesmo que a Rússia, a vitória de Balsonaro abre possibilidades aos Estados Unidos campo para uma política ilimitada de sanções contra as companhias mineiras e metalúrgicas russas”.

“Bolsonaro, continua o politólogo russo, tenciona privatizar tudo no Brasil, o que, tendo em conta as dimensões brasileiras, transformará o país num autêntico aspirador para os investidores que tencionam investir nas acções no Terceiro Mundo”.

Moscovo e Pequim têm fortes razões para estarem preocupados quanto à política do futuro Presidente do Brasil.