Nestes tempos, embora todos desejemos respostas prontas e unívocas, encontramos muitas vezes a complexidade do que está em causa, a ausência de informação e de conhecimentos consistentes. A ponderação é muito delicada: não se trata de escolher entre a saúde e a educação, nem entre a saúde e a economia, nem entre a saúde e… A meu ver, a educação em Portugal está a enfrentar um dos momentos mais difíceis da sua história recente.

É hoje unânime o papel fundamental do ensino presencial, do aspeto humano, da relação entre as crianças, os jovens e os seus educadores, e esta é uma conquista que não podemos abandonar durante e depois da pandemia. Há um ano atrás, a discussão estava dominada pela promessa dos robots que viriam substituir os professores e educadores. Se não estivéssemos numa circunstância dramática, quase me alegraria por todos reconhecermos, sem facciosismo, a vocação das nossas escolas: lugares de encontro entre crianças, jovens e adultos, que – juntos – procuram aprofundar o sentido da existência, através das competências e dos conhecimentos.

Nas nossas escolas, em janeiro de 2021, todos somos convocados a fazer isso mesmo, oferecer uma relação verdadeira com a circunstância atual. E de que se trata? De uma doença indomável, de um sistema nacional de saúde que enfrenta dificuldades em responder às solicitações, de mortes, de lutos, de descobertas e também alegrias e alívios. A decisão sobre o eventual encerramento das escolas é, na verdade, um momento precioso para responder a uma questão crucial: como comunidades educativas, o que temos a dizer às crianças e aos jovens? Como nos propomos acompanhar a sua aventura? Com os portões das escolas abertos ou fechados?

No passado ano letivo, assistimos — comovidos – a centenas de histórias de educadores e professores portugueses que superaram a pouca experiência digital, a falta de meios e de recursos para fazerem vibrar a sua paixão educativa. Milhares de educadores e professores agarraram a beleza da sua disciplina e “entraram” em casa dos alunos, tantos deles sem abandonar uma só criança, um só jovem.

Infelizmente, as escolas podem até ser provisoriamente encerradas, mas nada nem ninguém pode cancelar a experiência verdadeira da Escola. Interessa, por isso, aproveitar este momento para reconquistar a origem da nossa missão educativa: que o encontro com uma poesia, a beleza de uma obra de arte ou a perfeição de uma fórmula química ecoem na nossa vida e alcancem o coração dos nossos alunos. E que o seu coração possa bater com a força que nos fará arregaçar as mangas e reconstruir com confiança.

Nada nem ninguém pode parar a Escola enquanto brilharem os olhos de educadores e professores que, de sol a sol, se comprometem a levar aos seus alunos a beleza que encontraram. Com efeito, com os edifícios das escolas abertos ou fechados, a maior urgência é saber que caminho estamos a fazer com as crianças e os jovens, sem mascarar as perguntas dramáticas que surgem e aceitando o impacto que a realidade suscita em nós. É por isto, e só por isto, que vale mesmo a pena batermo-nos pela Escola: para que possamos encontrar verdadeiros lugares de esperança.

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