Enquanto escrevo estas palavras, tropas russas ocupam a maior central nuclear da Ucrânia. É, para mim, apenas o princípio de uma história que se prevê muito negra, com a sombra do armamento nuclear a ressurgir, após várias décadas e iniciativas de desarmamento. E não posso deixar de pensar que a história se repete e que a humanidade está condenada a não aprender nada com ela.

De facto, há 102 anos que se assinava o Tratado de Versalhes, que colocou termo à Primeira Guerra Mundial e castigou severamente a Alemanha pelo seu papel na mesma, sem saber que se lançavam ao mesmo tempo as bases para o conflito de ainda maiores proporções que se avizinhava.

Através do Tratado de Versalhes, a Alemanha ficou responsável por todos os danos decorrentes da Primeira Guerra Mundial, perdeu as suas colónias, para além de ter sido forçada a entregar diverso território, sem contar com as consequências militares.

Tal, naturalmente, levou a uma crise económica profunda e a diversos problemas sociais que levaram ao lógico crescimento do pensamento autoritário e à criação do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores, conduzindo ao resultado que todos nós conhecemos.

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Cento e dois anos depois, o mundo ocidental está a cair (novamente) no que se pode revelar o maior erro estratégico da sua história – a isolar e castigar severamente a Rússia, com sanções económicas e políticas que, embora possam ser adequadas em si mesmas, a minha forte convicção é de que terão o efeito inverso do pretendido.

Com efeito, Vladimir Putin já demonstrou, ao longo destes vinte anos de governação, não se deixar ameaçar sem represália, nem entender as sanções aplicadas como uma motivação para a paz, mas sim como fundamento para mais sangue, numa clara manifestação da sua índole autoritária e de quem não vai olhar a meios para atingir os seus fins.

Nesse sentido, o que o mundo ocidental está a fazer a um indivíduo que utilizou o direito à autodeterminação como fundamento para invadir um país inteiro, apenas instigará Putin a ter legitimidade para escalar ainda mais o conflito, sob a veste de aparentes legítimas represálias, e para convencer o seu povo de que o velho Ocidente apenas tem um objetivo – isolar e condenar a Rússia.

Desse ponto, até que Putin consiga convencer os russos de que é a Ucrânia e o resto do mundo ocidental que está empenhado em destruir a grande nação russa vai apenas um passo – e muito pequeno.

Assim, cabe ao mundo ocidental, e em especial à União Europeia, desenvolver uma maior inteligência e planeamento estratégico neste conflito, tomando ações claras e assertivas que o encerrem, ou pelo menos, o diminuam, ao invés desta ação concertada de isolamento da Rússia no mundo, que apenas terá um resultado desastroso, sendo manifesto que em qualquer conflito, e de forma muito particular neste, é melhor um mau acordo do que uma boa demanda.