Uma das consequências, da estratégia da esquerda de colar a Direita ao Estado Novo, foi a de reclamar para si a exclusividade da satisfação pelo 25 de Abril. Nada há, de mais errado.

Obviamente que, como conservador, teria preferido uma mudança suave e evolutiva do regime, em vez de algo radical. No entanto sempre atribuí ao Governo de Marcello Caetano a responsabilidade primeira de não ter conseguido efectuar essa mudança.

Durante o meu serviço militar – 1986-87 – em Cavalaria, tive a honra de estar às ordens do Governador Militar de Lisboa, à época um General de Cavalaria. Esse General foi um herói na nossa Guerra Colonial, tendo feito parte da elite militar que Spínola chamou para junto de si, na Guiné.

Este General foi preso na sequência do 11 de Março de 1975. Não obstante este facto, quando eu lhe disse qualquer coisa relacionada com o 25 de Abril, ele trovejou na sua voz de cabo de guerra: Ferreira! Eu também sou um Homem de Abril! O que não sou é do 26 do 27 e por aí a fora, até ao 25 de Novembro. Lembro que este General era, à época do 25 de Abril, Tenente-Coronel e, portanto, não foi daqueles que se juntaram ao movimento por questões de rancho.

Percebi aí a armadilha que a esquerda nos tinha colocado. Ser de Direita era ser a favor do Estado Novo, da censura, da resolução da guerra por meios militares, dos presos políticos, da tortura. Ora, não somos. Sei que é errado olhar para o passado com os preconceitos de hoje, mas a verdade é que existiam situações antes de Abril que são erradas em qualquer época ou lugar.

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Mas já é tempo para que a esquerda comece a usar os termos correctos do ponto de vista científico. Portugal não era um Estado fascista. A formulação de “Deus, Pátria e Família” é o contrário de qualquer estado fascista. Salazar, aliás, correu com fascistas, monárquicos, republicanos, socialistas e comunistas (os últimos com mais violência, é certo) e com todos aqueles que atrapalhassem a sua visão de homem providencial (que se esquecem sempre do pequeno pormenor da lei da vida…).

Também convém corrigir que a 25 de Abril não existiu nem uma Revolução, nem um Golpe de Estado. Existiu a deposição de um Governo, por forças militares.

Mas esta armadilha estendeu-se a outros níveis. Na música parece ser impossível ser de Direita e gostar de Sérgio Godinho. Pois eu gosto. Parece impossível gostar da “Vida de Bryan” e ser católico. Pois eu sou e esse filme é um dos da minha vida. Parece ser proibido ser conservador e gostar do Gato Fedorento ou de Ricardo Araújo Pereira. Pois farto-me de rir e acho o seu humor inteligente.

Está, pois, na altura, da Direita dizer a uns quantos – que nem eram nascidos em 1974 – que já não é cool dizer-se que se é contra o 25 de Abril. Que os males que aconteceram ao nosso País, decorrentes principalmente do 11 de Março — perpetrado por traidores do 25 de Abril –, já tiveram mais do que tempo para serem corrigidos. Que atacar o passado é apenas uma forma de desculpabilizar o presente e de desistir de lutar por um futuro melhor.

Deixemo-nos, pois, de partes, e vamos todos ao que interessa. E o que interessa passa por tirar do Governo da Nação partidos que não gostaram de Abril no seu estado puro, que o quiseram controlar e alterar, e que, com a maior falta de vergonha, reclamam-no como sendo seu.

Conselheiro Nacional do CDS-PP